• Taxa que serve de parâmetro para o sistema de metas do governo foi de 1,22% em fevereiro e soma 2,48% em apenas dois meses
• Inflação surpreende e fica em 1,22% em fevereiro, acima da previsão de analistas
• No acumulado em 12 meses, IPCA subiu para 7,7%, maior taxa desde maio de 2005
Lucianne Carneiro – O Globo
RIO - A inflação oficial brasileira, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficou em 1,22% em fevereiro, informou o IBGE nesta sexta-feira. Em janeiro, o indicador havia avançado a 1,24%. No acumulado em 12 meses até fevereiro, o IPCA registrou forte alta, para 7,7%, ante 7,14% no mês anterior. A taxa é a maior desde maio de 2005, quando foi de 8,05%, e é muito superior ao teto da meta do governo, que é de 6,5%. Nos primeiros dois meses do ano, o índice já sobe 2,48% — o dobro do registrado no mesmo período do ano passado.
O resultado veio acima da mediana das projeções de analistas do mercado financeiro, que esperavam que o índince desacelerasse a 1,08%. Em relatório enviado a clientes, o Bradesco informou que previa desaceleração a 1,1%. No comunicado, o banco avaliou que o impacto dos reajustes de preços administrados, como transporte público e energia, já teria se dissipado no mês passado. Além disso, previa menor pressão dos preços de alimentos.
Transportes puxam alta
Um quarto (25,41%) da alta da inflação de fevereiro veio da gasolina, com alta de 8,42% e responsável por 0,31 ponto percentual da alta de 1,22%. Isso reflete o aumento do PIS/Cofins em 1º de fevereiro.
A energia elétrica, que foi vilã na inflação de janeiro, subiu 3,14%, com impacto de 0,10 ponto percentual. Também tiveram pressão no IPCA de fevereiro automóvel novo, com alta de 2,88% e impacto de 0,09 ponto percentual, ônibus urbano — aumento de preços de 2,73% e impacto de 0,07 ponto percentual —, etanol — alta de 7,19% — e cursos diversos — aumento de 7,14%.
Os gastos com transportes subiram 2,20% e foram o grupo com maior influência na alta de fevereiro, com impacto de 0,41 ponto percentual, ou um terço da alta de 1,22%.
Depois da inflação da gasolina, o maior impacto individual foi dos cursos regulares, com alta de 7,24% e impacto de 0,21 ponto percentual no mês. As despesas com educação subiram 5,88% em fevereiro, com impacto de 0,27 ponto percentual. Fevereiro é o mês que tradicionalmente sobe puxado pelas mensalidades escolares, que são reajustadas neste início de ano.
Coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes destacou que a inflação de fevereiro se manteve no mesmo nível de janeiro:
— Sete itens sozinhos foram responsáveis por quase 74% do resultado do IPCA de fevereiro, gasolina, cursos regulares, energia, automóvel novo, ônibus urbano, etanol e cursos diversos. Este ano, em vez de a educação ser o grupo que mais se destaca, como ocorre geralmente em fevereiro, a gasolina pressionou mais.
O aumento de imposto teve "uma influência significativa" na inflação de fevereiro, segundo Eulina. Gasolina, automóvel novo, eletrodomésticos e cosméticos foram itens que subiram de preço por causa de elevação de impostos, como o Pis/Cofins e a recomposição da alíquota do Impostos de Produtos Industrializados (IPI).
A alta do dólar também apareceu na inflação de fevereiro, em saúde e cuidados pessoais, além de produtos de limpeza e eletrodomésticos. Os preços do grupo saúde e cuidados pessoais subiram 0,60%, com alta de 0,89% de artigos de higiene pessoal. Os preços de eletrodomésticos avançaram 2,15%, sob influência do dólar e de recomposição do IPI, segundo Eulina.
Apesar de ser o segundo mês de a inflação acumulada em doze meses em 7%, a pesquisadora afirmou que ainda é cedo para dizer que é um novo patamar do IPCA.
Salvador tem a maior inflação
Salvador foi a que teve a maior inflação em fevereiro entre as 13 regiões pesquisadas pelo IBGE, com alta de 1,66% dos preços, seguida por Recife (1,64%) e Goiânia (1,41%). No Rio de Janeiro, os preços subiram 1,19%, a sexta maior taxa entre as regiões metropolitanas. São Paulo, por sua vez, teve inflação de 1,51% em fevereiro, na quinta posição. Brasília, por sua vez, foi a menor taxa de fevereiro, de 0,57%.
INPC sobe a 1,16%
Já a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) avançou 1,16% em fevereiro, abaixo da taxa de 1,48% de janeiro e dos 0,64% de fevereiro de 2014. O índice calcula a inflação para as famílias com rendimento mensal entre um e cinco salários mínimos.
Analistas do mercado financeiro têm demonstrado pessimismo com o comportamento da inflação em 2015. No mais recente boletim Focus, divulgado na segunda-feira pelo Banco Central, a mediana das projeções para a inflação neste ano subiu para 7,47%, ante estimativa anterior de 7,33%. Se as previsões se confirmarem, o Brasil terá a maior inflação desde 2004.
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