- Folha de S. Paulo
O domingo amanheceu sem as chuvas torrenciais imploradas pelos governistas em suas orações a são Pedro, deixando as ruas livres para os protestos contra o governo petista e seu partido.
Antes de terminar a manhã, governistas mais pé no chão já admitiam: muito mais gente do que o previsto saiu de casa para gritar "Fora Dilma", "Fora PT", e em locais onde não eram esperadas grandes adesões, como cidades do Norte e Nordeste.
No início da tarde, ficava claro que São Paulo soltaria um grito ensurdecedor. Mais de 200 mil tomaram a avenida Paulista. "Coisa de tucano", relativizava um palaciano ainda anestesiado. "O maior erro será menosprezar o recado de hoje", aconselhava outro palaciano realista.
Recolhida ao Palácio da Alvorada, a resposta presidencial às ruas foi tímida e a de sempre. Prometeu um pacote contra corrupção que dorme nas gavetas do Planalto desde 2014 e defendeu uma reforma política que nunca conseguiu tirar do papel.
Receita que, até aqui, não se mostrou suficiente. A própria Dilma avalia que ela não mobiliza. Ou seja, terá de fazer mais para conter a escalada dos protestos. Afinal, tomou sonora goleada das ruas. Enquanto cerca de cem mil "defenderam" seu governo na sexta, perto de 1 milhão berrou contra ela neste domingo.
Sinal de que sua turma não demonstra o mesmo entusiasmo em defendê-la publicamente. Pior, torce o nariz para seu novo governo.
O fato é que Dilma foi rápida em dar um necessário cavalo de pau na economia, mas mostra-se lenta em criar uma agenda que leve esperança ao país. Para desespero de Lula, que vai perdendo a paciência com ela.
Como não dá para fazer milagres, Dilma precisa deixar de afugentar seus aliados e recuperar apoios para fazer a longa travessia do deserto. Aí, o caminho é o que ela mais odeia. Curvar-se às pressões do velho PMDB e partilhar poder para aprovar o ajuste fiscal. A alternativa é definhar e seguir apanhando das ruas.
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