• Presidente passa do dia no Alvorada e, devido à manifestação em São Paulo, convoca cinco ministros
- O Globo
A volta dos protestos
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff passou o dia de ontem no Palácio da Alvorada, acompanhando os protestos. No meio da tarde, chamou um grupo de ministros mais próximos para definir o que seria anunciando ao fim do dia. Integrantes do governo demonstraram preocupação e, em alguns momentos, perplexidade com o tamanho das manifestações. O clima mais tenso entre os governistas se estabeleceu à tarde, a partir do protesto em São Paulo. De manhã, integrantes do governo estimavam em, no máximo, 200 mil pessoas na Av. Paulista. No entanto, o número pegou a todos de surpresa. Estiveram com Dilma, além de José Eduardo Cardozo (Justiça) e de Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência), os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Thomas Traumann (Secretaria de Comunicação Social), Jaques Wagner (Defesa), e Giles Azevedo, assessor especial da presidente.
Pela manhã, houve manifestações isoladas em frente ao Palácio da Alvorada, a favor e contra Dilma. As duas vias de acesso ao local ficaram interditadas aos carros. A segurança na residência oficial da presidente foi reforçada, com mais de dez seguranças na entrada do local. Acompanhado de seus dois cachorros, o funcionário público Valter do Tete disse que votou em Dilma e que defende a permanência dela no poder. Segundo ele, impeachment é "choro de derrotado". Um outro cidadão que estava corria no local também gritou o nome da presidente, em sua defesa.
Houve, no entanto, manifestações contrárias. De manhã, quando o acesso ao local ainda era possível, uma pessoa em um carro com uma bandeira do Brasil passou devagar e gritou: "Fora Dilma!". No início da tarde, já com os dois acessos interditados, um grupo de pessoas da mesma família tirou fotos em frente ao espelho d"água. Um deles gritou: "Vai embora Dilma!". Durante a tarde, uma senhora conseguiu entrar de carro na parte externa do Palácio da Alvorada. Ela se identificou como Márcia e contou que estava atrás da van que trouxe seguranças e quando chegou aos cones conseguiu entrar também:
- Perguntei: não posso passar? Eles deixaram. Vim aqui para ver o que está acontecendo, quais ministros estão chegando. Não estou de roupa amarela, manifestante sozinha é meio difícil.
Resposta imediata
Dilma recebeu, no início da tarde, o ministro da Justiça. Segundo interlocutores, ela e Cardozo discutiram medidas de combate à corrupção que serão anunciadas nesta semana e fizeram uma primeira avaliação das manifestações. Pelos cálculos, só pela manhã, mais de 189 mil brasileiros tinham ido às ruas, mas o número não incluía os manifestantes em São Paulo. À tarde, a estimativa de público chegou a mais de 1 milhão. Com o fortalecimento do número de manifestantes nas ruas, integrantes do governo pensaram em não comentar os protestos na noite de ontem, deixando as respostas para hoje. A avaliação que prevaleceu, no entanto, foi a de que seria politicamente pior deixar o país dormir sem algumas palavras do governo, como o respeito às manifestações democráticas.
No meio da tarde, o Ministério da Justiça causou mal-estar nas redes sociais ao postar um Banner com a frase "Discurso de ódio fere a democracia". Internautas reagiram, fazendo comentários de que o governo procurava atacar manifestações pacíficas que ocorriam em todo o país. Depois de pouco mais de uma hora no ar, o ministro Cardozo pediu a seus assessores que retirassem o Banner do ar para evitar atritos desnecessários.
Para o governo, nas manifestações, houve pedido de impeachment, mas elas não resumiram a retórica, houve também cobrança por combate à corrupção e também mudanças no sistema político.
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