É imperioso que a presidente da República assuma a sua responsabilidade e dê respostas práticas, coerentes e eficazes às demandas nacionais.
De volta às ruas pela primeira vez depois do fenômeno de massas deflagrado em junho de 2013, os brasileiros deram uma clara demonstração de maturidade democrática nos atos que, iniciados ainda na quinta-feira, favoráveis ao Planalto, culminaram ontem com manifestações expressivas de crítica e rejeição ao governo Dilma Rousseff. Se, há menos de dois anos, as reivindicações não chegaram a ser claramente entendidas, nem contempladas, agora não há mais como ignorá-las. Os cidadãos vestidos predominantemente de verde e amarelo que tomaram ruas e praças das principais cidades do país, ontem, disseram com clareza que não suportam mais a corrupção, que estão insatisfeitos com o governo e que esperam soluções para a instabilidade política e econômica. E é a presidente Dilma Rousseff que está sendo cobrada. Cabe a ela dar as respostas.
O Brasil protestou pacificamente, mas disse inequivocamente o que quer. Felizmente, os excessos e ameaças verificados nas redes sociais não se materializaram. O ponto fora da curva foram alguns equívocos tanto na pauta dos defensores do governo quanto na de seus opositores. É o caso do lobby em defesa de corporativismos e da partidarização da máquina, visível nos atos de apoiadores da presidente Dilma. É o caso, igualmente, de uma bandeira legítima e democrática, mas precipitada, que é o pedido de impea- chment, diante da inexistência de um fato concreto, neste momento, para respaldá-lo. Outros absurdos isolados, como pedidos de intervenção militar ou do fim do Supremo Tribunal Federal, só podem ser explicados pelo desconhecimento das consequências de uma ruptura ou do papel das instituições. No seu conjunto, as manifestações mostraram por todo o país uma predominância do bom senso e da civilidade, o que contribui para o fortalecimento da democracia.
Mas o Planalto e os demais setores públicos demandados devem respostas imediatas às reivindicações levantadas pelos brasileiros, especialmente às exigências de combate à corrupção e de correção de rumos na política e na economia. O apelo mais forte é dirigido particularmente à presidente da República, de quem os brasileiros esperam mais dinamismo na condução do país e posições inequívocas no combate à corrupção, que não poupou nem mesmo uma empresa de tamanho simbolismo como a Petrobras. Os cidadãos querem ver também o cumprimento na prática de suas promessas de campanha, que tomaram rumo inverso com a disparada da inflação, o retrocesso na produção e o aumento do desemprego – tudo isso potencializado pela instabilidade política.
Depois dessa nova onda de manifestações, é imperioso que o governo se mostre mais humilde, mais disposto ao diálogo, à transparência e à comunicação franca. E que a presidente da República assuma a sua responsabilidade e dê respostas práticas, coerentes e eficazes às demandas nacionais.
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