- O Estado de S. Paulo
A eleição de 2016 será mais barata, por ordem da nova legislação. Mesmo que o PMDB dê um jeito de enterrar a lei, haverá menos recursos. É a crise, é o medo, é o fim das doações empresariais. Para sorte de quem já é conhecido do eleitor, a campanha também será mais curta. Tudo somado, seria o paraíso da reeleição, não penassem os atuais prefeitos entre o purgatório e o inferno da impopularidade. Sem grana, sem tempo e sem incumbentes fortes, será a festa de celebridades e ex-prefeitos.
Pesquisa nacional do Ibope revela que, na média, os chefes de governos municipais estão no vermelho, devendo popularidade. São apenas 28% de ótimo/bom contra 40% de ruim/péssimo, no Brasil. Esse saldo negativo de 12 pontos costuma dificultar a tarefa de quem pretende se reeleger. Alguns prefeitos terão mais dificuldades do que outros, porém: entre ele, os das periferias das metrópoles e os das regiões Sudeste, Norte e Centro-Oeste.
Os governantes das cidades do entorno têm um saldo negativo maior do que seus colegas das capitais: 17 pontos contra 11 pontos negativos no saldo de popularidade. Já os prefeitos do Sudeste registram, em média, 43% de ruim/péssimo, contra apenas 25% de bom/ótimo - saldo negativo de 18 pontos. E no Norte/Centro-Oeste o déficit dos prefeitos é ainda maior: 45% de avaliações negativas versus 21% de opiniões positivas.
Em sua defesa, os prefeitos podem dizer que estão pagando pela crise nacional, que não têm culpa de o Brasil ir para o lado errado. Em parte é isso, mas nem toda a fatura cai na conta federal. Na média, os governadores estão menos mal avaliados do que os prefeitos: 28% de ótimo/bom contra 32% de ruim/péssimo. Estão no limite de um empate técnico entre avaliações positivas e negativas - e têm dois anos a mais para tentar fazer o eleitor mudar de ideia. O problema urgente é mesmo dos prefeitos.
Para complicar sua solução, vai faltar dinheiro de campanha. Junto com a força da máquina e o reconhecimento do nome do candidato pelo eleitorado, o dinheiro é o maior conquistador de corações e mentes em qualquer eleição. Prefeitos mal avaliados costumam contar com a propaganda eleitoral para melhorar sua imagem na opinião pública e alavancar votos para se reeleger. A questão é: como eles vão pagar para fazer essa propaganda?
Sem as doações empresariais, os candidatos terão de contar só com o que receberão dos partidos, de pessoas físicas e do próprio bolso. Se a divisão fosse paritária entre os municípios, cada prefeito receberia do Fundo Partidário o suficiente para pagar um único comercial de 30 segundos para TV.
“Vai haver caixa 2”, dizem os maus perdedores do julgamento que acabou com o financiamento empresarial. Mas qual executivo de empreiteira vai doar, pelo caixa 1 ou 2, após as férias forçadas que seus colegas experimentam em Curitiba? E qual candidato vai se arriscar a pedir e acabar numa carceragem onde a única saída que não depende de despacho do juiz é um buraco fétido no chão?
Como a Lava Jato demonstrou, o rastreamento das transações financeiras tornou virtualmente impossível mover dólares ou reais sem deixar pegadas. E graças à delação premiada, acabou-se a honra entre ladrões. Tudo mundo entrega todo mundo.
Resta o escambo. Empresas pagarão por serviços não declarados para candidatos: aluguéis de carros e casas, cabos eleitorais, pesquisas. Como esses “favores” não são exatamente legais, não podem dar na vista - o que dificulta que o escambo se aplique à propaganda de TV e rádio e aos impressos. Isso pode “matar” as candidaturas de desconhecidos. Eles não terão tempo nem dinheiro para se fazer reconhecer junto ao eleitor.
Isso significa que, em São Paulo, por exemplo, Celso Russomanno (PRB) e Marta Suplicy (PMDB) saem com boa vantagem sobre o prefeito Fernando Haddad (PT) e todos os “japoneses” do PSDB.
Nenhum comentário:
Postar um comentário