Por Andrea Jubé - Valor Econômico
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff volta hoje a Brasília com o desafio de desfazer os nós de uma reforma imbricada, que ampliou a turbulência na base e levou mais insatisfação aos aliados. Em uma semana de conversas, ela se indispôs com PMDB, PT e PTB. Dilma tem sido pressionada a arbitrar o imbróglio com os peemedebistas, a quem prometeu duas nomeações para os deputados, para depois recuar. Ela foi aconselhada a adiar o anúncio para depois da análise dos vetos presidenciais, agendada para quarta-feira.
Antes de viajar, deixou o ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, articulador político, incumbido de resolver o impasse em torno do grupo mais próximo ao vice-presidente Michel Temer: a manutenção de Eliseu Padilha na Aviação Civil e a acomodação de Hélder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), em outra pasta. Hélder comanda a Secretaria da Pesca, que será incorporada ao Ministério da Agricultura.
O PMDB, contudo, impõe a Dilma a solução da celeuma. Caberia a ela a "escolha de Sofia", entre a permanência de Padilha, contemplando Temer, de Hélder, atendendo o Senado, ou assegurando dois ministérios aos deputados. Aos interlocutores, o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), relatou que Dilma lhe ofereceu o Ministério da Saúde e a nova pasta de infraestrutura, batizada de "Aerobarco". Picciani advertiu o Planalto que não aceitará uma ou outra pasta - Portos ou Aviação - e ameaça retirar as indicações.
Dilma está entre a cruz e a espada, encurralada por três alas do PMDB, sem poder renunciar a nenhuma delas, sobretudo às vésperas da votação do veto mais polêmico: o do reajuste dos servidores do Poder Judiciário, com impacto estimado em R$ 36,2 bilhões em quatro anos. Somente nos próximos dois anos, o Ministério do Planejamento calcula que o aumento implique um rombo de R$ 6,8 bilhões.
O desfecho do impasse com o PMDB será decisivo no resultado dessa votação. Dilma não está disposta a contemplar o aliado com sete ministérios, mas a equação de seis pastas não fecha. Ao afastar Edinho Araújo dos Portos, da cota pessoal de Michel Temer, Dilma desagrada o vice. Se decidir afastar Eliseu Padilha do primeiro escalão, agrava o confronto com o PMDB orgânico. De outro lado, terá de lidar com a insatisfação da bancada da Câmara. Os petistas alegam que a Saúde é o maior orçamento da Esplanada, estimado em R$ 111 bilhões, e vale "três ministérios", argumento que os deputados rechaçam. E são eles os responsáveis por deflagrar, ou não, o impeachment. Em outra ponta, desalojar Hélder implica desagradar Jader e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O apoio do Senado tem sido fundamental ao Planalto na manutenção dos vetos.
Com outros aliados, Dilma também fez gestos desastrados. Ofereceu na surdina o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) aos senadores do PMDB, que reivindicaram a pasta da Integração Nacional. Depois, teve de dar explicações ao PTB do atual ministro Armando Monteiro Neto, alegando um "mal entendido". Armando é considerado um nome da cota pessoal de Dilma e até do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem é próximo. Tem trânsito com empresários, mas não teria votos na bancada. "O ministro nos representa", rebateu ao Valor o líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO).
Na seara do PT, a presidente ainda precisa definir o destino dos ministros Carlos Gabas, da Previdência Social, e Tereza Campello, do Desenvolvimento Social. A Previdência vai se fundir ao Ministério do Trabalho, mas não está confirmado que Gabas, do PT orgânico, será o titular da nova pasta. De igual forma, cogita-se a fusão do MDS, de Tereza, com o Desenvolvimento Agrário, de Patrus Ananias. Dilma gosta de Tereza, mas ela não tem votos no Congresso. As mudanças no segundo escalão abriram mais fissuras. PP e PMDB estão descontentes com a possível fusão da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), que o primeiro acabou de herdar dos petistas, com o Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs), núcleo de poder dos peemedebistas.
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