Enquanto o governo e o Congresso Nacional se mantêm vacilantes sobre a execução do ajuste fiscal, que é essencial para restabelecer a confiança na economia, cria-se uma tragédia de grandes proporções no mercado de trabalho. O Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística (IBGE) registra uma taxa de desemprego de 7,6% em agosto, a maior para esse mês do calendário gregoriano desde 2009. Já chega perto de um milhão os empregos formais destruídos nesta recessão, nos dados acumulados em 12 meses até agosto, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho.
Até o começo do ano, economistas estavam surpresos com a robustez do mercado de trabalho, em meio a uma fraca atividade econômica. A expansão do Produto Interno Bruto (PIB) havia caído abaixo de seu potencial em 2013 e 2014, mas as empresas procuraram não demitir. O receio era não conseguirem repor a mão-de-obra quando houvesse a recuperação econômica, depois que mudanças demográficas e programas sociais reduziram a oferta de trabalho. Agora, com uma recessão profunda e ainda sem perspectivas de acabar, o ajuste nas folhas salariais ocorre com mais força.
O total de desempregados nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE chegou próximo de dois milhões de pessoas em agosto, uma alta perto de 50% em relação ao mesmo mês do ano passado. A falta de trabalho tem se agravado, em particular, na faixa de idade entre 25 e 49 anos, cuja taxa de desemprego subiu de 4% para 6,6%, sempre na comparação entre agosto de 2014 e de 2015 "Isso preocupa porque essa população pode ser arrimo de família, quem sustenta a casa", disse o coordenador da pesquisa de emprego e salário do IBGE, Cimar Azeredo.
Não menos grave é o aumento do desemprego entre jovens, entre 18 e 24 anos, que passou de 12,9% para 18%. A oferta de mão de obra pelos mais jovens tinha se reduzido nos últimos anos, quando o aumento da renda da família e programas sociais permitiram que essa parcela da população se dedicasse aos estudos. Agora, eles voltam ao mercado, e não acham vagas.
Também está aumentado o tempo em que trabalhadores ficam sem trabalho. Em um ano, subiu de 17,7% para 19,7% a proporção de pessoas desempregadas há mais de um ano no universo de desocupados. Quanto mais tempo alguém fica sem emprego, maior o risco de perder suas qualificações.
Relatório do banco Goldman Sachs, divulgado na semana passada, destaca que houve uma avanço de 2,2% no emprego por conta própria, sempre na comparação entre agosto de 2014 e de 2015. Isso nada tem a ver com uma maior empreendedorismo da população. Como o mercado formal de trabalho caiu 3,8%, e o informal, 4,1%, trabalhadores têm procurado se virar como podem para sobreviver.
Em agosto, foram cortadas 86,5 mil vagas com carteira assinada, segundo dados do Caged. A destruição de empregos superou as estimativas dos analistas econômicos, que em média esperavam fechamento de 72,3 mil postos de trabalho. Também ocorre num período do ano em que as empresas costumam contratar. Em agosto de 2014, o país havia criado 101 mil vagas.
Os especialistas preveem desemprego ainda maior. Economistas do Bradesco, por exemplo, esperam 60 mil cortes de vagas formais em setembro e outras 50 mil em outubro - e, até o fim do ano, seriam perdidos 1,5 milhão de postos. A consultoria Tendências projeta uma taxa média de desemprego de 7% em 2015 e de 9% em 2016.
O viés das estimativas, certamente, é de alta. O Banco Central conta com uma recessão mais profunda neste ano, de 2,7%, ante 2,2% estimados em junho. O mercado financeiro já dá como certo que a contração econômica vai se repetir em 2016, com um encolhimento adicional de 0,8%.
O quadro, que já era preocupante, tende a se agravar com o fortalecimento do dólar e aumento dos juros futuros, depois da crise fiscal criada pelo governo e Congresso com a revisão das metas de superávit primário, uma proposta orçamentária desastrada e a ameaça de derrubada de vetos. As condições financeiras sofreram aperto adicional e as expectativas de agentes econômicos foram novamente abaladas. Se nada for feito para corrigir o problema fiscal, esses eventos financeiros negativos vão se transmitir para a economia real, levando a novos cortes de empregos.
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