Por Raymundo Costa e Marli Olmos - Valor Econômico
BRASÍLIA e BUENOS AIRES - O receio de perder as ruas, em sua maioria já em poder da oposição, é o que orienta o comportamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao atacar o ajuste fiscal. Até agora, sua ênfase está no incentivo ao consumo para a retomada da atividade econômica, conselho que tem repetido por mais de uma vez à presidente Dilma Rousseff.
Ontem, em Buenos Aires, Lula voltou à carga. "Me assusta a visão de que ao primeiro sintoma de crise se fale em ajuste", que traz "perda de salário, de emprego e miséria". Segundo ele, todas as experiências nesse sentido "levaram os países ao empobrecimento".
As declarações de Lula repercutiram no PT, onde a primeira avaliação foi de que o ministro Joaquim Levy venceu o embate interno sobre a condução do ajuste. A perda do grau de investimento deixou a presidente e outros petistas encurralados e sem outra alternativa de curto prazo. Para o presidente do PT, Rui Falcão, a solução é uma só: "Mais receita do que cortes" - sinal de que o embate interno ainda não acabou.
O partido teme uma grande derrota nas eleições municipais de 2016 e tenta de todas as formas reduzir o dano causado pelo ajuste fiscal e pela Lava-Jato.
Petistas temem "perder as ruas"
O receio de perder as ruas, já em sua maioria em poder da oposição, levaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a defender um ajuste fiscal menos rigoroso. Até agora, a ênfase de Lula era no incentivo ao consumo para a retomada da atividade econômica, conselho que repetiu por mais de uma vez à presidente Dilma Rousseff. Ontem, em palestra feita em Buenos Aires, capital da Argentina, Lula fez críticas ao ajuste, que em sua opinião traz perda de salários, de empregos "e miséria".
As declarações de Lula em Buenos Aires tiveram repercussão no PT, onde a primeira análise foi de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi o vencedor do embate interno sobre a condução do ajuste. A perda do grau de investimento, segundo petistas, deu mais gás a Levy e deixou a presidente e outros petistas encurralados e sem outra alternativa de curto prazo. Para o presidente do PT, Rui Falcão, a solução é uma só: "Mais receita do que cortes", disse. Ou seja, o embate interno ainda não acabou.
As manifestações favoráveis ao governo animaram Lula, o PT e o Palácio do Planalto, muito embora tenham levado menos pessoas às ruas que os protestos contrários ao governo. Segundo estimativas das polícias, mais conservadores que às dos organizadores, os atos convocados pelo PT reuniram pelo menos 75 mil pessoas em 23 Estados.
Num momento em que a popularidade da presidente está abaixo de 10%, segundo os institutos de pesquisa, a resposta dos manifestantes foi considerada boa pelos petistas. O partido teme sofrer uma grande derrota nas eleições municipais de 2016 e procura de todas as maneiras reduzir os danos provocados pelo ajuste fiscal e pela Operação Lava-Jato, o megaesquema de corrupção descoberto na Petrobras.
Na avaliação do PT, é sua base social que impede o avanço dos adversários no projeto de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Cerca de dez mil pessoas atenderam a convocação para as manifestações no Rio, o suficiente, segundo um senador petista ouvido ontem pelo Valor, para assustar setores empresariais e de alta classe com a hipótese de "venezuelização" do país.
Não teria sido outro o motivo, segundo o mesmo senador, que levou entidades de classes empresariais e banqueiros a se manifestar favoravelmente à manutenção da presidente Dilma Rousseff. Mas tudo isso pode se esfarelar se o PT perder as ruas, que já foram majoritariamente ocupadas pela oposição - dias antes, os atos contrários ao governo Dilma levaram cerca de 900 mil pessoas em mais de 200 cidades às ruas.
Na primeira manifestação realizada após a eleição de Dilma Rousseff, na eleição de 2014, chegou a se calcular em 1 milhão o número de ativistas apenas na Avenida Paulista, em São Paulo. O protesto seguinte contou com menos gente, ainda assim considerados grandes, sobretudo nas grandes cidades.
O PT avalia que será praticamente dizimado nas capitais e nas maiores cidades, nas próximas eleições, e apostará suas fichas nos municípios menores e mais pobres, nos quais tem se mostrado forte eleitoralmente, nas últimas eleições.
Nas conversas com Dilma, o ex-presidente Lula tem aconselhado a combater a recessão com investimentos. Desde ontem, com o discurso na Argentina, reforçou a ênfase no aumento de impostos e na manutenção de investimentos. No Senado, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) condenou a ideia de se ampliar as faixas do Imposto de Renda, o que atingirá o eleitorado de classe média do PT, e fez duas propostas, já discutidas com o governo, para combater o déficit.
A primeira é a retomada, a partir de 2016, da tributação sobre lucros e dividendos, com uma alíquota de 15%, "e a eliminação da figura dos juros sobre o capital próprio, criado em 1995 a pretexto de atrair capitais e estimular os investimentos privados. Apenas com essas duas medidas, diz Lindbergh Farias, "podemos arrecadar até R$ 60 bilhões".
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