- Folha de S. Paulo
O Brasil sob Dilma 2 está ficando muito parecido com o Oriente Médio: quem aposta no pior cenário nunca perde dinheiro.
A sucessão de trapalhadas políticas da presidente, com destaque para a apresentação de uma proposta orçamentária com deficit primário para 2016, foi finalmente recompensada com a retirada do selo de bom pagador pela Standard &Poor's (S&P). Como esperado, a manhã de ontem foi de muito nervosismo nos mercados, com dólar e juros subindo fortemente e a Bolsa despencando.
Se há um lado bom no rebaixamento, é que, ao nos brindar com o gostinho do que acontecerá caso o governo e o Congresso deixem que o mercado proceda ao ajuste em vez de eles mesmos o operarem, oferece uma chance para que os atores políticos se mexam e algo aconteça.
É claro que ninguém gosta de cortar aposentadorias e programas sociais. Mas, insisto, se o governo não apresentar um projeto coerente e crível que faça com que o Estado brasileiro caiba no PIB, o mercado deverá lançar o dólar e os juros nas alturas e lá mantê-los, o que inviabilizará o controle da inflação e aprofundará ainda mais a recessão. Obviamente, quem mais perde nesse cenário são os mais pobres, que acabariam ficando não só sem os benefícios mas também sem seus empregos.
O caminho para resolver a encrenca fiscal é conhecido. Passa por uma combinação de cortes de despesas (inclusive as obrigatórias) e aumento de impostos. A dificuldade para fazer passar um plano com essas características é que ninguém mais acredita no governo, que, diga-se, deu todos os motivos para a desconfiança.
O fato, porém, é que algo precisa ser feito já, ou os efeitos da crise serão piores do que o estritamente necessário. A urgência implica que não dá para excluir o Planalto das negociações. Qualquer iniciativa para afastar a presidente levaria meses, durante os quais as coisas se deteriorariam ainda mais.
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