• Agência rebaixa nota de crédito do Brasil e tira do país o selo de bom pagador, trazendo de volta um tempo que se pensava superado
Embora não se imaginasse que uma decisão como essa fosse tomada por estes meses, não chegou a constituir surpresa a iniciativa da agência de classificação de risco Standard &Poor's (S&P) de retirar o selo de bom pagador do Brasil. Trata-se de desfecho quase lógico para a sequência de erros dos governos Dilma Rousseff (PT).
O corte da nota de crédito apenas tornou oficial uma situação já estabelecida na prática: aos olhos dos investidores, o Brasil se tornou um país pouco confiável, algo tão vexatório quanto preocupante. Quem ainda se dispõe a trazer dinheiro para cá cobra juros cada vez maiores como forma de compensar os riscos assumidos.
O raciocínio também se aplica a empresas. Nesta quinta-feira (10), um dia depois de rebaixar o país, a S&P diminuiu a classificação de 31 companhias brasileiras; 24 delas perderam o grau de investimento, incluindo Eletrobras e Petrobras –a petrolífera sentirá efeitos especialmente danosos, pois se encontra pressionada por gigantesca dívida.
Para piorar, a S&P não só passou o país e essas estatais para a categoria considerada especulativa mas também carimbou as notas com perspectiva negativa, indicando a possibilidade de novos rebaixamentos –o grau especulativo dessa agência se divide em 12 níveis, e o Brasil, ao menos por ora, está no mais elevado deles.
Defensores do governo poderão lembrar que companhias de classificação de risco, como a norte-americana S&P, perderam parte de sua credibilidade por não terem antevisto a crise de 2008 nos EUA.
Será, de todo modo, um argumento retórico; o fato é que investidores levam em conta tais avaliações antes de dar destino a seus recursos. Muitos deles têm limitações estatutárias para escolher países considerados especulativos por duas das três grandes agências.
Por enquanto, Moody's e Fitch parecem não ter intenção de retirar do Brasil o atestado de bom pagador, mas nada impede que venham a fazê-lo. A gestão Dilma não se cansa de dar motivos para isso.
A S&P, por exemplo, mencionou a apresentação pelo governo de um Orçamento deficitário para 2016. A projeção de rombo de R$ 30,5 bilhões foi, de fato, demonstração cabal de que o Planalto não tem um plano para estancar a deterioração das contas.
A tentativa do Executivo de transferir ao Congresso a tarefa de achar uma saída foi um desastre. Além de isolar ainda mais a presidente, evidenciou o quanto o governo tropeça na falta de coordenação entre os ministros da área econômica. Surpreende que ainda tenham força setores que defendem a ampliação dos gastos públicos.
Enquanto a administração Dilma Rousseff parece não saber o que fazer diante da crise, as condições se deterioram e consolida-se a expectativa de recessão até 2016. O país retrocede a um tempo que se acreditava superado, quando o risco de calote do governo dominava o cenário econômico.
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