• Governo tem dias para conter a jornada nas estrelas dos juros e evitar recessão catastrófica
- Folha de S. Paulo
"Não é catastrófico". O aumento do descrédito do governo e de suas empresas "não é catastrófico", disse a presidente Dilma na reunião em que discutiu com seus principais ministros a degradação recente da economia, de acordo com o que foi vazado para jornalistas.
Adjetivos ficam ao gosto do freguês. O que estão pensando os donos do dinheiro grosso, videntes e demiurgos de catástrofes?
Considere-se um termômetro sintético e "pop" da febre da catástrofe: o dólar. Nas previsões mais amenas, para em R$ 4 no final deste ano e em R$ 4,30 no fim de 2016. Há piores. Para ficar no mais simples, dólar mais alto implica inflação maior, se nada mais mudar.
Os economistas do Itaú, por exemplo, até moderados, acreditam agora que a inflação de 2016 caia apenas a 6,5% (de 9,5%). O Banco Central esperava que sua campanha de alta de juros levasse a inflação a 4,5%; os povos dos mercados, até faz pouco, acreditavam em 5,5%, o que já estaria "bom ruim". Agora, é ruim, ruim.
Com inflação ainda alta assim, a queda da taxa "básica" de juros, "os juros do BC", de curto prazo, fica para as cucuias das calendas, para o início de 2017. Isto posto e o conjunto da obra, o pessoal do Itaú previa ontem que o PIB deve encolher mais, 2,8% em 2015 e 1,2% em 2016.
Nesse caso, no triênio de 2014-2016, o PIB per capita, a produção ou a renda da economia por cabeça, cairia 6,2%, perto dos 6,4% do triênio de hiperinflação e desgoverno terminais de Sarney, 1988-1990. O que seria catastrófico? Chegar ao ponto do triênio de Collor, 1990-1992, quando o PIB per capita encolheu 8,4%?
Sim, o futuro depende bem de acaso, previsões são o que sabemos e, enfim, o que há de vir depende de não entregarmos os pontos.
O futuro é incerto, mas convém considerar que é muito grande o risco de descrédito ainda maior do país, de rebaixamentos da nota de crédito por outras dessas empresas de avaliação de risco de calote. Isto significa altas maiores de juros no mercado e altas extras do dólar. Quem vai se arriscar a ficar com títulos da dívida brasileira e reais, que assim perderiam valor, para simplificar a coisa? Logo, é possível esperar desvalorizações maiores.
As taxas de juros de curto e longo prazo continuavam ontem sua viagem nas estrelas, caminho que tomaram de vez desde 22 de julho, quando o governo reduziu sua meta de superavit primário do equivalente a 1,1% do PIB para 0,15% (trata-se da diferença entre receita e despesa, afora o gasto com juros. Em dinheiro, uma redução da "poupança" de R$ 63 bilhões para R$ 9 bilhões).
Para quem não acompanha essas coisas, grosso modo essa decisão passou a ideia de que a dívida do governo continuaria a subir sem limite. Como se sabe, quem mais precisa, quem deve mais, paga juros mais altos. E assim foi. A taxa real de juros de curto prazo (um ano, "ex ante") subiu de 7,4% em 22 de julho para 8% quando o governo anunciou o Orçamento deficitário e passava ontem dos 9%.
Por falar em previsão e déficit, macroeconomistas do Itaú ora acreditam em deficit primário de 1% do PIB em 2016. No Orçamento "transparente" de roto, o governo previa déficit de 0,5% do PIB, mas vai "construir uma solução" que dê em superávit de 0,7%. Do número que sair dessa loteria é que depende o tamanho do desastre. Ou da catástrofe.
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