• Ex-presidente desdenha da perda do selo de bom pagador pelo Brasil
• Petista disse a amigos que 'falará mais o que pensa' quando entender estar sendo ignorado pela presidente
Mariana Carneiro – Folha de S. Paulo
BUENOS AIRES - O ex-presidente Lula demonstrou nesta quinta (10) estar em desacordo com as medidas de ajuste fiscal do governo Dilma Rousseff.
"Me assusta muito a visão de todos aqueles que, ao primeiro sintoma de uma crise, começam falar em ajuste. Ajuste significa corte de salários, corte de emprego, significa voltar ao patamar de miséria que você estava [antes] para poder recuperar a economia. A mim, não agrada", disse ele, durante um seminário em Buenos Aires.
"Todas as experiências de ajuste que foram feitas levaram os países à perda de postos de trabalho e ao empobrecimento da população."
Programas de ajuste, disse, só fizeram aumentar as dívidas dos países que tentaram implementá-los: "A Grécia tinha dívida de 84% e hoje é 186% [do PIB]", exemplificou.
O petista afirmou que o bom funcionamento da economia e o aumento do crédito dependem da confiança.
"Em economia não existe mágica, existe uma palavra chamada confiança e credibilidade. E se ela existir entre governantes e governados, tudo fica mais fácil", completou.
Lula está na Argentina a convite de uma fundação controlada pelo governador Daniel Scioli, que concorre à presidência com o apoio de Cristina Kirchner.
Também nesta quinta, o ex-presidente afirmou que a perda do selo de bom pagador pelo Brasil "não significa nada": "Significa que apenas a gente não pode fazer o que eles querem. A gente tem que fazer o que a gente quer".
O discurso destoa do que ele afirmou quando a mesma Standard &Poor's foi a primeira das três agências de risco mais importantes a dar ao Brasil o grau de investimento, em 2008, durante seu segundo mandato.
À época, Lula disse que o país vivia um "momento mágico": "O Brasil foi declarado um país sério, que tem políticas sérias, que cuida das suas finanças com seriedade e que, por isso, passou a ser merecedor de uma confiança internacional que há muito tempo necessitava", afirmou na ocasião.
Segundo interlocutores, Lula "falará mais o que pensa" daqui por diante. Há alguns meses, amigos disseram ter ouvido do petista que ele dirá o que pensa toda vez que entender que está sendo ignorado por Dilma.
Conforme relatos, Lula está insatisfeito com a falta de rumo do governo, o que, segundo ele, causa desânimo na sociedade.
Colaborou Natuza Nery, de Brasília
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