O Globo
É muito conhecida entre os que já fizeram parte de governos, qualquer governo, a Síndrome da Porta Giratória, que acomete a todos que decidem deixar suas funções. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, parece ser o mais proeminente caso na atualidade, mesmo que se confirme a informação de que Alexandre Tombini também está em busca de novo emprego na iniciativa privada e, portanto, prestes a também enfrentar a temível Porta Giratória.
Tal Porta parece engolir as pessoas para dentro de governos com facilidade, mas se transforma em um obstáculo quase intransponível quando as mesmas pessoas querem sair por espontânea vontade. Se entrar de mau jeito na Porta, você pode se machucar.
Sair de um governo atirando, arrombando a Porta, só pode ser uma boa escolha quando o aspirante a dissidente não se importa de ficar marcado pelo governo que denunciou. Por mais fraco que seja, um governo tem recursos inesgotáveis para retaliar, e especialmente no setor financeiro não é saudável estar em oposição explícita.
Sair de comum acordo é uma admissão de fracasso que não interessa a nenhum executivo carregar. E assim o tempo vai passando sem que as condições ideais se formem para uma saída que seja ao mesmo tempo a reafirmação de suas convicções e a garantia de que sua vida depois da Porta Giratória seguirá seu rumo sem grandes turbulências.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, chegou ao segundo governo Dilma vindo diretamente de campanhas presidenciais de oposição. Flertou com Marina Silva, esteve mais ligado a Aécio Neves, oferecendo seus préstimos a Arminio Fraga, que seria o futuro ministro da Fazenda de um governo tucano.
O destino o levou, através do Bradesco, ao governo petista, que, tudo indicava, pretendia dar um cavalo de pau na “nova matriz econômica” implantada por Guido Mantega para colocar “a casa em ordem”, como gosta de repetir para irritação de petistas ligados ao antigo regime.
Oito meses após a posse, estamos, na melhor das hipóteses, na estaca zero, embora haja quem considere que retrocedemos em vários pontos. A reação da própria Dilma, que se recusa a cortar gastos e a reduzir sua equipe ministerial ao tamanho razoável, tentando apenas tirar o status de ministério do Banco Central ou do Gabinete de Segurança Institucional, é sinal de que ela está só esperando um momento para seguir em frente com suas visões econômicas desastrosas.
O ministro Joaquim Levy faz das tripas coração para se desdobra entre o que seria ideal fazer para colocar as contas em equilíbrio e o que é possível fazer num governo em que os sinais são contraditórios.
Agora mesmo, pelo Facebook, Rui Falcão, o presidente do PT, teoricamente o maior partido de apoio ao governo, convoca a militância do partido para uma conferência no sábado em Belo Horizonte, um dos poucos estados em que o PT está no governo, em “defesa da democracia e por uma nova política econômica”, isto é, contra a política de Levy e com saudades da “nova matriz econômica” que nos trouxe até esta situação de quase calamidade.
A Frente Brasil Popular reunirá militantes de uma salada de siglas, como Central Única dos Trabalhadores ( CUT), Central dos Trabalhadores do Brasil ( CTB), Movimento dos Sem Terra ( MST) e União Nacional dos Estudantes ( UNE), além de partidos da base aliada: PT, PCdoB, PSB e PDT.
O objetivo, na definição da CUT, é “criticar e fazer ações de massa contra todas as medidas de política econômica e ajuste fiscal que retirem direitos dos trabalhadores e que impeçam o desenvolvimento com distribuição de renda”.
A Porta Giratória está à frente de Joaquim Levy. Ontem ele quase se atreveu a enfrentá- la, mas ganhou um fôlego. Será que dá para enfrentar o fim de semana?
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