- O Estado de S. Paulo
Vamos começar por onde paramos na sexta-feira da semana passada, sobre a fragilidade do ministro tido e havido como o “mais forte” do governo, Joaquim Levy: “Ele vai suportar a pressão? Se não, como Dilma vai resistir sem Temer na política e sem Levy na economia? Com o desarticulador Aloizio Mercadante negociando com o Congresso e o gastador Nelson Barbosa cuidando do ajuste fiscal?”.
Todas essas perguntas não só ficaram sem resposta como vêm se aprofundando em diferentes línguas, desnorteando o mercado e criando sobressalto nas pobres vítimas chamadas agora a pagar, via impostos, os erros gritantes que vêm do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Segundo ela, funciona assim nos governos e nas famílias: se gastaram demais, há um desequilíbrio e é preciso chamar todo mundo para discutir saídas. Só que a indagação obrigatória para abrir qualquer discussão é: quem gastou demais? E por que, para que, com o quê?
Quem tem mais responsabilidade tem de pagar mais, certo? E não é exatamente isso que ocorre no governo Dilma. Foi a presidente quem meteu os pés pelas mãos, descuidou das receitas, saiu gastando à vontade, principalmente quando disputava a reeleição – deve ter sido mera coincidência... –, e desandou as contas sabe-se lá por quantos e quantos anos. Então, ela criou o déficit, não admite cortar na própria carne e quer que o resto da “família” pague a conta. Ou seja: eu, você, eles, nós todos.
No meio disso, há um Joaquim Levy que parece sem pai nem mãe. O “pai” era o vice-presidente Michel Temer, que tentou adotá-lo no início do segundo mandato, quando viu que ele estava sendo sabotado pelo PT, dentro e fora do governo. Veio daí o famoso jantar que Temer ofereceu no Palácio do Jaburu para Levy, o olheiro Aloizio Mercadante e toda a cúpula do PMDB: Sarney, os presidentes da Câmara e do Senado, os líderes pemedebistas nas duas Casas, os ministros do partido. Quem não tem PT caça com PMDB.
A aliança tácita Temer-Levy funcionou bem durante um tempo, até Temer perceber que Levy não era o único alvo dos petistas, inclusive dos ministros petistas e até do próprio Mercadante. Eram os dois. Temer é um político, sabe a hora de pular fora. Levy é um técnico, ainda está aprendendo, a duras penas.
Dilma, que já foi “mãe do PAC”, que ninguém mais sabe, ninguém mais viu, agora tem de embalar o seu Mateus, cada vez mais sozinho, mais desanimado, mais desiludido. Para efeitos externos, ela responde em entrevistas que Levy não está desgastado, não. E internamente? De derrota em derrota, o ministro continua se ressentindo de falta de apoio.
De duas, uma: ou a presidente só defende Levy de boca para fora, ou tenta defendê-lo de fato, mas não tem força para dar voz de comando no seu partido e nos militantes da Casa Civil e do Planejamento. Em qualquer hipótese, a expectativa é que Levy continue sofrendo uma pressão diária, inclusive via “recados” na imprensa. Quando a coisa vai por aí, não para mais.
Para piorar, ele cometeu um erro político crasso, típico de quem não é do ramo: deu um chá de cadeira de quase três horas em meia centena de empresários que pretendiam lhe emprestar apoio. Paulo Skaf (Fiesp), que liderava o grupo, tomou as dores e virou um inimigo frontal do ministro, que era para ser tão forte e está tão fraco. Dilma perdeu Temer na coordenação política e corre o sério risco de perder Levy na condução da economia, o que seria um desastre.
Para confirmar a gravidade da situação, ontem foi um dia de “são dois pra lá, dois pra cá”: Levy adiou a ida ao G20 para uma lavação de roupa suja no Planalto, enquanto Temer foi confraternizar em São Paulo justamente com a socialite de um dos movimentos “Fora Dilma”. Voltando à pergunta original: sem Temer e sem Levy, o que sobra?
Foto. A ONU morre mais um pouco junto com o pequeno Aylan.
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