Por Maria Cristina Fernandes – Valor Econômico
SÃO PAULO - A aprovação da emenda que proíbe o financiamento empresarial às campanhas eleitorais é um trailer do filme que uma trinca de senadores pemedebistas quer tornar atração permanente da temporada.
A reforma política foi a estreia, no plenário do Senado do trio Renan Calheiros, Romero Jucá e Eunício Oliveira que tenta se firmar como avalista do governo no PMDB desde que o vice-presidente Michel Temer afastou-se da articulação política. O tema não poderia ter sido mais adequado. Estão em jogo as regras de sobrevivência dos atores da política.
Os senadores jogaram juntos na aprovação do substitutivo que contraria os principais pontos da reforma aprovada na Câmara sob a liderança e manobras do presidente da Casa, Eduardo Cunha.
O substitutivo não pretendia confrontar tão radicalmente as regras aprovadas pelos deputados. O relatório preparado pelo mais habilidoso deles, Romero Jucá, contemplava o financiamento empresarial. A sessão já havia sido aberta quando Jucá anunciou que havia passado a endossar uma sub-emenda, destinada a suprimir o financiamento empresarial e acatar unicamente as doações de pessoas físicas, tanto para candidatos quanto para partidos.
Havia recebido o aval do presidente da Casa e do líder do PMDB. Renan e Eunício agiram para garantir que pelo menos metade do partido fechassem com a proposta liderada por PT e PSOL.
O resultado foi apertado. Além dos dois partidos, a proposta teve o apoio unânime apenas do PSB e do PCdoB. Os demais votos foram colhidos no PDT, PP, PSD e PPS. Entre os partidos que fecharam questão a favor do financiamento empresarial, PSDB e DEM foram os únicos que conseguiram a unanimidade dos votos de seus senadores.
A trinca fechou com o PT sem trancar completamente as portas para o PSDB do senador José Serra que conseguiu emplacar a liberação do domicílio eleitoral.
Senador pelo Amapá, que abrigou durante dois mandatos um forasteiro, o ex-presidente José Sarney, Randolfe Rodrigues (PSOL) desgostou-se com a medida por temer que os Estados menores sejam mais afetados.
A proposta é talhada para abrir ainda mais o jogo numa conjuntura ditada pela incerteza. Se a Lava-jato ventar a favor de aventureiros não serão as fronteiras estaduais que irão barrá-los.
Ainda que apertado, o placar de 36 votos deixou num dos mais experientes analistas políticos de Brasília, Antônio Augusto de Queiroz, do Diap, a certeza de que a tentativa de Cunha de constitucionalizar o financiamento empresarial encontrou uma barreira definitiva no Senado. Com a aproximação do líder do PMDB na Câmara, o deputado Leonardo Picciani, do governo, o presidente daquela Casa terá dificuldades redobradas em reverter a decisão do Senado.
A trinca Jucá, Renan e Eunício demonstra serviço no momento em que a reforma administrativa pode vir a abrir janelas de oportunidades, como a de um vistoso Ministério da Infraestrutura.
Jogam na permanência da presidente Dilma Rousseff, com ou sem Joaquim Levy. E buscam converter a parcela do PIB que se engraça com uma nova coalizão de poder a ser firmada em torno de Temer com o apoio de um PSDB que tenta dar mais sinais de unidade.
A entronizar um governo com força política para fazer mudanças tributárias e regulatórias substantivas, na medida para ressuscitar lideranças natimortas da esquerda, seria preferível deixar como está. Terão que fazer concessões, como na votação de ontem, mas com um impostinho aqui e outro acolá, esperam moldar este governo à imagem e semelhança de seus interesses.
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