• Ministro adia viagem para se reunir com presidente e exigir fim de ‘sinais trocados’ na política fiscal
Levy se reúne com Dilma e obtém aval para manter meta de superávit em 2016
• Apesar de presidente ter dito na véspera que ministro não estava 'isolado', titular da Fazenda relata incômodo com 'sinais trocados' na condução da política fiscal, ouve Planalto garantir sua permanência e recebe apoio para reverter déficit orçamentário
Tânia Monteiro, Vera Rosa, Adriana Fernandes, Isadora Peron e João Villaverde - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff pôs em prática ontem uma operação concreta de apoio ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Os dois se reuniram ontem, no Palácio do Planalto, e o governo anunciou que Levy permanece no cargo, após o compromisso com a manutenção da meta de superávit para 2016 ter sido reafirmado pela presidente e pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
O ministro da Fazenda também mostrou-se incomodado com o que chama de "sinais trocados" na condução da política fiscal. Para ele, a equipe econômica "precisa ter uma cara só", sem contradições, numa referência às "trombadas" com Nelson Barbosa, seu colega do Planejamento.
No encontro, a presidente deixou claro que o governo vai alterar a peça do Orçamento, enviada na segunda-feira ao Congresso e que prevê um déficit de R$ 30,5 bilhões. Esse é exatamente o desejo de Levy, que espera "consolidar" uma proposta orçamentária que indique, por meio de corte de gastos e eventuais aumentos de arrecadação, que a meta de superávit de 0,7% do PIB do ano que vem será atingida.
Ao fim do encontro, após Levy ter recebido o endosso de Dilma a suas queixas, coube a Mercadante falar com os jornalistas em nome do governo. Segundo ele, "Levy fica" porque "tem compromissos com o Brasil".
Desde o início da manhã, Dilma trocou inúmeros telefonemas com Levy. Apesar de ter ouvido uma defesa enfática a seu favor no dia anterior, o ministro continuava dando sinais de que ainda não se sentia completamente confortável para continuar no comando da condução da economia do País.
Com a subida da temperatura, Dilma convocou uma reunião de última hora com Barbosa e Mercadante para convencer Levy a se manter no cargo. O ministro da Fazenda, então, adiou de ontem para hoje a viagem para a reunião do G-20 na Turquia e aproveitou o encontro para apresentar suas condições: quer ver se transformar em prática o apoio dado pela presidente na quarta-feira, quando Dilma negou "isolamento" do titular da Fazenda.
Apoio. O ministro Edinho Silva (Comunicação Social) também foi escalado para assegurar em público a permanência de Levy. Segundo ele, "erra feio" quem aposta no desgaste do colega. "Levy fica porque nunca saiu. Sempre ficou."
Mercadante afirmou que os ministros do Planejamento e da Fazenda estão "totalmente alinhados" e que Levy "está na equipe, ajuda muito e vai continuar ajudando".
Segundo o titular da Casa Civil, "num momento de instabilidade, há uma aliança entre os mal-informados e os mal-intencionados, gente especulando e tentado ganhar dinheiro com a turbulência".
Mercado. As especulações e divergências em torno do rombo no Orçamento levaram à percepção no mercado financeiro de que Levy, considerado uma "âncora" positiva no governo, tinha se enfraquecido. O dólar disparou, atingindo ontem a máxima de R$ 3,81.
A operação "segura Levy" começou ainda anteontem, quando o ministro se queixou com o vice-presidente Michel Temer. Levy voltou a encontrar o peemedebista ontem, e logo em seguida senadores do partido deram declarações de apoio ao ministro da Fazenda.
Levy pediu socorro até ao ex-chefe, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, que se reuniu com Dilma na manhã de quarta-feira e relatou a preocupação com os "sinais trocados" que estavam sendo transmitidos ao mercado e ao setor produtivo.
Trabuco reafirmou que Levy insistia na importância de deixar claro que o governo não desistiu da meta de superávit. Este era um ponto fundamental para dar sustentação a Levy.
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