Por Andrea Jubé, Raphael Di Cunto e Bruno Peres – Valor Econômico
BRASÍLIA - Após duas semanas de negociações e três reuniões com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff anuncia hoje a reforma ministerial na tentativa de barrar o impeachment e reconstruir a base aliada. O saldo desse esforço são oito cortes de ministérios, o PMDB inflado, com uma pasta a mais - agora são sete - e a reconfiguração do Palácio do Planalto, com ministros da confiança de Lula nos postos estratégicos. A incógnita, até ontem à noite, era o titular do novo Ministério da Cidadania.
Os ministros da corrente majoritária do PT, a Construindo um Novo Brasil (CNB), e próximos a Lula ganham assento nos gabinetes contíguos a Dilma: Jaques Wagner na Casa Civil, Ricardo Berzoini na Secretaria de Governo (com articulação política) e Edinho Silva segue na Secretaria de Comunicação Social.
Aloizio Mercadante volta para o Ministério da Educação, mas integrará a coordenação política. O ministro Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral, assume a nova pasta de Trabalho e Previdência Social. Carlos Gabas volta à secretaria-executiva da Previdência. Dilma também decidiu manter o Ministério do Desenvolvimento Social, com Tereza Campello à frente da pasta. Num dos desenhos, o MDS seria incorporado a Trabalho e Previdência.
Somente no início da noite, ela confirmou os sete nomes do PMDB. O deputado Celso Pansera (RJ) - ligado ao líder Leonardo Picciani (RJ) e ao presidente da Casa, Eduardo Cunha (RJ) - aceitou a nomeação para Ciência e Tecnologia, apesar da resistência da bancada a essa pasta. O deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), médico psiquiatra, assume o Ministério da Saúde, na vaga que era do PT, com o ex-ministro Arthur Chioro. Os deputados queriam um ministério na área de infraestrutura, Portos ou Aviação Civil.
O vice-presidente Michel Temer perdeu um nome de sua cota pessoal - Edinho Araújo, de Portos -, mas manteve Eliseu Padilha na Secretaria de Aviação Civil e o ex-presidente da Câmara Henrique Alves no Ministério do Turismo. Temer também articulou a nomeação de Hélder Barbalho para a Secretaria de Portos, cobiçada pelo PMDB da Câmara. Na cota do PMDB do Senado, continuam os ministros Kátia Abreu, na Agricultura - considerada uma indicação pessoal de Dilma -, e Eduardo Braga em Minas e Energia.
O embate pela Secretaria de Portos marcou a tarde de ontem. A bancada do PMDB no Senado reivindicava a pasta para Hélder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), um fiel aliado do Planalto. A Secretaria de Pesca, pasta de Hélder, será extinta. À tarde, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), declarou que não havia "disputa com a Câmara", porque o "[Ministério de] Portos está prometido para o Senado". Já Leonardo Picciani - antes de acertar a nomeação de Pansera para a Ciência e Tecnologia - afirmara que a oferta para a bancada correspondia às pastas da Saúde e na área de "infraestrutura".
Até a noite, persistia o impasse sobre o titular do novo Ministério da Cidadania, que reunirá as Secretarias de Políticas para Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos e ficará com o PT. Três nomes eram cotados: as deputadas Benedita da Silva (RJ), da CNB, Moema Gramacho (BA), da tendência Mensagem, e Nilma Gomes, titular da Igualdade Racial.
Dilma recorreu a Lula para concluir a reforma. Durante as negociações, falou com ele por telefone quase diariamente. Ontem almoçou no Palácio da Alvorada com seu antecessor, com o presidente do PT, Rui Falcão, e os ministros petistas mais próximos: Jaques Wagner, Ricardo Berzoini, Edinho Silva e Aloizio Mercadante, além do assessor especial Giles Azevedo.
Para concluir as mudanças na esfera administrativa, a reunião com o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, avançou até depois das 21 horas. O objetivo inicial era reduzir dez ministérios, mas serão anunciados oito cortes, além da redução de cargos comissionados e da fusão de órgãos no segundo escalão.
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