- Folha de S. Paulo
Dilma Rousseff tornou-se uma personagem trágica. Um pouco por acaso, um pouco não (Dirceu e Palocci haviam caído em desgraça), ela foi escolhida por Lula para sucedê-lo. Eleita em 2010, experimentou os favores da sorte em sua plenitude. Seu governo era um sucesso. Dilma bateu todos os recordes de popularidade e, num de seus muitos momentos de "hýbris" (soberba), tentou até ensinar à chanceler alemã, Angela Merkel, o que países devem fazer para sair de crises econômicas.
Como convém às tragédias, porém, houve a "peripéteia" (peripécia), que transformou em má a boa fortuna de Dilma. De fato, seu governo hoje são ruínas. A presidente, que agora sofre a maior rejeição popular jamais registrada pelas pesquisas, divide-se entre esforços para tentar salvar seu mandato e não deixar que a situação econômica degringole ainda mais. E todas as suas iniciativas parecem fadadas a fracassar.
A crer em Aristóteles e sua "Poética", na origem de tudo está a "hamartía" da personagem. O termo é traiçoeiro. Às vezes é traduzido como "erro". Pode ser também "falha de caráter". Na teologia cristã, "hamartía" virou "pecado". Dilma, com ou sem intenção, pouco importa, deu causa a sua perdição. Suas ações é que levaram à destruição econômica, e suas omissões, aos escândalos de corrupção que agora a assombram.
Aonde isso nos leva? Segundo Aristóteles, tragédias, ao inspirar pena e terror na audiência (isto é, em nós), levam-nos a uma "kátharsis" (purgação). Talvez, mas será que é realmente Dilma a personagem trágica aqui? Ela, afinal, foi escolhida pela maioria dos brasileiros, que, se foram enganados, o foram voluntariamente, já que os sinais de que a então candidata mentia sobre a situação econômica do país estavam ao alcance de quem quisesse ver. Neste caso, o personagem trágico somos nós. "De te fabula narratur" (a fábula fala de ti), sentenciou Horácio.
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