• Celso Pansera, um dos escolhidos, foi chamado pelo doleiro Alberto Youssef de ‘pau-mandado’ de Cunha
Simone Iglesias, Júnia Gama, Fernanda Krakovics, Catarina Alencastro e Washington Luiz - O Globo
-BRASÍLIA- Depois de um dia de negociações, a presidente Dilma Rousseff conseguiu, finalmente, fechar ontem a participação do PMDB em seu ministério. A bancada do partido na Câmara ganhará dois ministérios: Saúde e Ciência e Tecnologia, que serão entregues, respectivamente, a Marcelo Castro (PI) e Celso Pansera (RJ). Os ministros Eduardo Braga (Minas e Energia), Kátia Abreu (Agricultura), Eliseu Padilha (Aviação Civil) e Henrique Eduardo Alves (Turismo) seguirão nas mesmas pastas. O único peemedebista demitido será o ministro dos Portos, Edinho Araújo, para ceder a cadeira ao colega de partido e ministro da Pesca, Hélder Barbalho, cuja pasta será extinta.
O novo ministro de Ciência e Tecnologia foi chamado pelo doleiro Alberto Youssef de “paumandado” de Eduardo Cunha. Youssef declarara em depoimento à Justiça Federal que era alvo de perseguição por um deputado que era “paumandado” de Cunha, e ao falar à CPI, em agosto, afirmou que a perseguição era feita por Pansera. O deputado foi um dos fundadores do PSTU, com o qual rompeu em 2001 para apoiar Lula à Presidência. Foi para o PSB e, em 2013, deixou o partido depois que Eduardo Campos decidiu desembarcar do governo para candidatar-se à Presidência. No Rio, presidiu a Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro (Faetec).
Disputa por Portos
O maior impasse ao longo do dia ocorreu entre as bancadas do partido na Câmara e no Senado, com troca de farpas entre os respectivos líderes, Leonardo Picciani (RJ) e Eunício Oliveira (CE), na disputa pelo posto de ministro dos Portos. Dilma pediu ajuda ao vice-presidente, Michel Temer, mas este disse que manteria distância das negociações, pois a própria presidente é quem estava articulando diretamente com os dois parlamentares. O vice havia se reunido pela manhã com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que em meio à descoberta de que tem contas na Suíça, pediu a Temer que entregasse os cargos no governo e ao ministro Eliseu Padilha, também presente à reunião, que não ficasse no ministério. Os pedidos de Cunha foram em vão. No fim da tarde, o Senado ganhou a queda de braço. Diante da recusa de Henrique Alves e de Eliseu Padilha de aceitarem a Ciência e Tecnologia, ela decidiu que os deputados ficariam com a pasta, além da Saúde.
Durante as negociações, Dilma disse a peemedebistas que não queria dar os Portos para Picciani porque os deputados já estavam contemplados com um dos principais postos da Esplanada, a Saúde. Dilma também mostrou-se insatisfeita em entregar a Ciência e Tecnologia ao deputado Celso Pansera, por considerá-lo “sem expressão política”, segundo relatou ao GLOBO um auxiliar do governo. Tudo isso ficou para trás diante do risco de jogar a pacificação esperada com a reforma por água abaixo. Dilma, então, convidou para uma conversa no Planalto Picciani, Marcelo Castro e Celso Pansera.
Inicialmente, o líder do PMDB entrou sozinho no gabinete presidencial para uma conversa com Dilma, que estava acompanhada de seu assessor especial, Giles Azevedo, e do ministro Ricardo Berzoini — que assumirá a nova Secretaria de Governo, responsável pela articulação política. Segundo relatos de presentes ao encontro, Dilma reafirmou o compromisso de entregar à bancada o Ministério da Saúde e outra em infraestrutura, mas ponderou que havia uma “demanda” de outras alas do PMDB em relação a esse segundo ministério. Picciani aproveitou a deixa e disse à presidente que se fosse para facilitar a composição do Ministério, a bancada concordaria com a pasta de Ciência e Tecnologia, pois o espírito era de “colaborar”. Em seguida, os deputados foram convidados a entrar e a presidente lhes fez formalmente o convite para assumirem as pastas.
Minutos antes, Dilma já havia chamado a seu gabinete o presidente do PDT, Carlos Lupi, e o líder da bancada na Câmara, André Figueiredo (CE), para oficializar o convite para que o deputados asumisse o Ministério das Comunicações. Com isso, o PDT deixa o Ministério do Trabalho, sob o comando de Manoel Dias, que será fundido com o ministério da Previdência. A presidente também definiu que o petista Miguel Rossetto será o titular da nova pasta. O Ministério do Desenvolvimento Social também seria unido à nova pasta, mas acabou excluído.
Até o início da noite, restava um último impasse para Dilma completar a nova configuração da Esplanada. A pedido dos movimentos sociais, a presidente vai escolher uma mulher para ocupar o Ministério da Cidadania — resultado da fusão das secretarias da Igualdade Racial, das Mulheres e dos Direitos Humanos. A favorita para o posto é a deputada Benedita da Silva (RJ), que foi ministra da Assistência e Promoção Social no primeiro governo Lula. Mas a segunda maior corrente petista, a Mensagem, quer emplacar a deputada Moema Gramacho (PT-BA). Um dos principais argumentos é que ela integra o mesmo grupo de Miguel Rossetto, que pertence à Democracia Socialista, e era a primeira opção de Dilma para o posto, mas acabou rejeitado pelos movimentos sociais por, segundo um ministro, ser “homem e branco”.
Benedita, por sua vez, é da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), a mesma de Lula. O grupo do ex-presidente voltou ao chamado núcleo duro do Palácio do Planalto, com Jaques Wagner na Casa Civil, Ricardo Berzoini na Secretaria de Governo e a manutenção de Edinho Silva na Secretaria de Comunicação Social. Os detalhes finais da reforma foram fechados ao longo do dia pela presidente justamente em almoço com estes três ministros, o ex-presidente Lula, o presidente do PT, Rui Falcão, Aloizio Mercadante, que está trocando a Casa Civil pela Educação, e Giles Azevedo.
Dilma marcou o anúncio oficial da reforma ministerial para hoje, às 10h30m, no Palácio do Planalto, e pediu a todos os ministros que acompanhem ao seu lado o pronunciamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário