• Em discurso da tribuna, senadora disse que ministro se comporta como um 'parlamentar da oposição e não como um magistrado da Corte de Contas'
Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Ex-ministra da Casa Civil da presidente Dilma Rousseff, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) saiu nesta segunda-feira, 5, em defesa da decisão do governo de apresentar um pedido de suspeição do relator das contas do governo de 2014 no Tribunal de Contas da União, o ministro Augusto Nardes, a quem chamou de "golpista". Senadores da oposição e independentes reagiram em plenário e acusaram o governo de querer adiar o julgamento da Corte para tentar evitar a rejeição das contas, medida que, na prática, poderia abrir caminho para embasar ou robustecer um pedido de impeachment contra Dilma no Congresso.
O governo quer impedir Nardes de participar da sessão do TCU de quarta-feira, 7, na qual deve começar o julgamento das contas do governo sob a alegação de que o ministro antecipou seu voto em entrevistas.
Em discurso da tribuna, Gleisi disse que Nardes se comporta como um "parlamentar da oposição e não como um magistrado da Corte de Contas". "É uma postura, no meu entender, golpista, somando-se aos esforços de grupos e partidos que militam pelo afastamento da presidenta da República, inconformados com sua vitória legítima nas últimas eleições", criticou.
Para a ex-ministra de Dilma, Nardes tem "conspirado" contra um governo eleito. Ela citou o fato de, na semana passada, o ministro do TCU ter recebido representantes de movimentos que defendem o impeachment de Dilma no próprio TCU. "Só há um lugar na história para o ex-deputado Augusto Nardes: ao lado de golpistas que conspiram contra a democracia. Menos, ex-deputado Nardes, menos entrevistas e mais responsabilidade", acusou.
Na sequência, os oposicionistas rebateram Gleisi. Para o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), a ex-ministra comete um "insulto à inteligência" dos técnicos do TCU que embasaram as decisões da Corte. O tucano disse que Nardes não antecipou seu voto, uma vez que a posição dele é conhecida. "É uma operação de chicana essa de tentar tumultuar um processo levantando a arguição de suspeição, quando não há nada que justifique essa suspeição. É uma chicana fadada ao fracasso", rebateu.
O presidente do DEM, senador Agripino Maia (RJ), classificou como uma injustiça o governo anunciar no fim de semana, em entrevista coletiva de três ministros, que tentaria afastar Nardes. Ele ironizou o motivo da suspeição.
"Eu me vejo na obrigação (…) de trazer esses elementos, tendo em vista o inusitado encontro ocorrido no domingo, dos três ministros e daquilo que eu julgo uma injustiça com o ministro Nardes, que é um ministro do Tribunal de Contas da União que está procurando cumprir o seu dever, a sua obrigação, e que pode ser enxovalhado, pode ser entregue ao pelourinho por coisas que ele não fez. Pelo contrário, ele está procurando zelar pelo interesse público do Brasil", criticou.
A senadora Ana Amélia (PP-RS), que tem atuação independente, disse que a conclusão dela é singela. Para ela, o governo quer "empurrar com a barriga" o julgamento para 2016. "Daqui a dois meses temos recesso aqui e no Tribunal de Contas. E nós vamos nessa 'enrolation', nessa 'embromation', para que não se conheça devidamente o caso - não entro nem no mérito", disse.
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