• Os partidos aliados querem desalojar os petistas dos escalões inferiores dos ministérios, principalmente nos estados, e neles abrigar seus próprios quadros
- Correio Braziliense
A presidente Dilma Rousseff não conseguiu garantir o quórum necessário para votação dos vetos às chamadas “pautas-bombas” no Congresso ontem. Não porque haja uma maioria oposicionista que deseje derrubar os vetos — os partidos de oposição estão apenas mandando recado de que o Palácio do Planalto não deve contar com seus adversários para resolver os problemas que ela própria criou –, mas, sim, porque os partidos da base querem que a reforma ministerial garanta “porteira fechada” nos ministérios que ocupam.
Foi um gesto mais ensurdecedor do que as vuvuzelas dos funcionários do Judiciário que pressionam os parlamentares para que o veto presidencial ao aumento da categoria seja derrubado. Havia apenas 196 deputados em plenário, quando o governo precisaria de 257. Compareceram à sessão, porém, 60 senadores, bem mais do que os 41 necessários para a votação. Dos 65 deputados do PMDB, cuja bancada na Câmara foi contemplada com os ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia na reforma ministerial, somente 34 deram o ar da graça.
No PDT, que ficou com Comunicações, apenas 4 dos 29 deputados foram a plenário. O PR compareceu com apenas 6 dos 34 deputados da bancada, embora tenha mantido o Ministério dos Transportes. Do PSD, apenas 10 de 33, apesar de o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, ser uma estrela em ascensão na constelação de aliados preferenciais da presidente Dilma. O PP também fez jogo duro: somente 9 de 39 deputados compareceram.
A grande traição, porém, foi registrada na bancada do PT, que garantiu presença de apenas 49 dos 62 deputados, o que demonstra a insatisfação de parte da legenda com a reforma ministerial feita por Dilma Rousseff. E confirma rumores de que uma parcela expressiva aguarda apenas uma janela para abandonar o partido.
Porteira fechada
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), minimizou o fracasso da primeira ofensiva do governo pós reforma no Congresso. “Vocês vão ver: o governo vai botar o quórum e encerrar essa contenda amanhã. Não foi derrota de ninguém. Não teve quórum porque muitos parlamentares não estavam sequer na Casa", disse.
Todos os líderes da base governista têm uma boa desculpa para o que aconteceu. Para bom entendedor, porém, ficou evidente que a base do governo ainda não se sente dona das pastas distribuídas aos partidos aliados em troca de votos firmes e decisivos em plenário.
Hoje deve ocorrer uma nova tentativa de votação, o clima é de manutenção dos vetos — inclusive com alguns votos da oposição, como antecipou Rodrigo Maia (DEM-RJ). Mas ficou claro que os partidos aliados querem desalojar os petistas dos escalões inferiores dos ministérios, principalmente nos estados, e neles abrigar seus próprios quadros.
Ou seja, Dilma terá que fazer mais concessões e negociar caso a caso com os deputados da base. O problema é que o novo dispositivo parlamentar de Dilma, encarregado dessas negociações, é petista de carteirinha — Jaques Wagner (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Edinho Silva (Comunicação Social) — e deve resistir a isso. Entre salvar o governo ou salvar o partido, a escolha desse estado-maior, no fundo d' alma, é a segunda opção.
Deu errado
Os nervos estão à flor da pele no Itamaraty, depois do acordo de livre-comércio dos Estados Unidos com Japão, Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura e Vietnã. Assinada segunda-feira em Atlanta (EUA), após cinco anos de negociações, o acordo representa 40% do PIB mundial e desnuda o fracasso da política externa brasileira, que agora ocupa o noticiário policial por causa da Operação Lava Jato e seus desdobramentos.
As negociações do Brasil com os parceiros comerciais do outro lado do Atlântico estão estagnadas por causa do Mercosul, principalmente a Argentina. A aposta de que os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do SUL) liderariam a retomada do crescimento mundial fracassou. O Itamaraty também concentrou sua estratégia de negociação com países da América do Sul e da África e na Organização Mundial de Comércio (OMC).
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