- Folha de S. Paulo
Durou menos de 24 horas a euforia do Planalto com a reforma ministerial. Na tarde de segunda-feira, Dilma Rousseff empossou dez novos auxiliares. Na manhã de terça, o governo amargou um vexame no Congresso. Não conseguiu mobilizar o número mínimo de aliados para analisar vetos da presidente.
Para que a votação ocorresse, era necessária a presença de 257 deputados e 41 senadores. A sessão começou às 11h30 e se arrastou por mais de duas horas. Quando o relógio marcou 13h47, o senador Renan Calheiros jogou a toalha. Faltavam 61 deputados no plenário esvaziado.
O PMDB, que agora tem sete ministérios, falhou no teste de fidelidade. Dos 65 deputados da sigla, só 34 marcaram presença. Em outros partidos aliados, a deserção foi ainda maior. Dos 106 deputados de PP, PR e PSD, que controlam pastas importantes, apenas 25 compareceram.
A análise dos vetos não era um mero teste simbólico. Estavam em jogo os projetos da chamada pauta-bomba, que ameaça explodir o ajuste fiscal. Só o aumento de até 78% para os servidores do Judiciário pode elevar as despesas federais em R$ 36 bilhões nos próximos quatro anos.
Se o Congresso não mantiver os vetos, a situação dos cofres públicos ficará ainda mais dramática, com consequências para todos.
Os governistas ofereceram explicações diferentes para o fiasco do plenário vazio. A principal é que os aliados estão insatisfeitos com a reforma, que não saciou todos os apetites do Congresso. Eles alegam que Dilma ofereceu mais vantagens aos deputados do PMDB, que emplacaram dois ministros, do que às bancadas de outros partidos.
O Planalto espera retomar a análise dos vetos nesta quarta, mas precisa refletir sobre o modelo de aliança que decidiu estimular. Enquanto tentar resolver tudo com cargos e verbas, o governo continuará sujeito a chantagens a cada votação. Por mais que distribua doces, sempre restará alguém com fome.
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