• Entre as principais nações, só Rússia terá desempenho pior. Mundo deve crescer 3,1%
Henrique Gomes Batista - O Globo
- LIMA e SÃO PAULO- O Brasil terá este ano o segundo pior desempenho econômico entre as maiores nações — perdendo apenas para a Rússia, que sofre com a queda do preço do petróleo e com as sanções por causa do conflito na Ucrânia —, afirmou ontem o Fundo Monetário Internacional ( FMI), cujo encontro anual acontece esta semana em Lima, no Peru. O relatório Panorama da Economia Mundial, publicado pelo Fundo, prevê que a economia brasileira tenha uma retração de 3% este ano e de 1% em 2016.
Essa estimativa é mais pessimista que a do próprio mercado brasileiro. O último boletim Focus, elaborado pelo Banco Central com analistas de instituições financeiras, prevê queda de 2,85% do Produto Interno Bruto ( PIB) este ano. E o Banco Mundial, que também divulgou suas projeções em Lima ontem, estima retração de 2,58% este ano e de 0,61% em 2016. Já a agência de classificação de risco Moody’s está em linha com o FMI: citando a deterioração da condição fiscal e a turbulência política, a entidade divulgou ontem estimativas de queda de 3%e 1% no PIB de 2015 e 2016, respectivamente.
“No Brasil, os negócios e a confiança dos consumidores continuam a recuar, em grande parte, por causa da deterioração das condições políticas, o investimento está declinando rapidamente, e o necessário aperto na orientação da política macroeconômica está colocando pressão descendente sobre a demanda interna”, afirma o relatório do Fundo.
Com relação à economia global, o FMI reduziu sua previsão de crescimento de 3,3% para 3,1%. Para 2016, a revisão foi de 3,8% para 3,6%. Segundo o relatório do organismo, a desaceleração da China, a queda nos preços das
commodities e a expectativa de aumento dos juros nos Estados Unidos ( que tornaria os títulos do Tesouro americano mais atraentes, retirando recursos de outros países) são os principais motivos para essa queda nas projeções.
Brasil e Venezuela afetam região
Para o ano que vem, apenas Brasil e Rússia têm projeções de queda no PIB. E os cortes nas estimativas brasileiras foram mais profundos que no caso russo. O FMI ressaltou ainda que a forte redução nas expectativas para o Brasil terá impacto significativo em toda a América Latina, que também vai amargar recessão este ano, de 0,3%. Na região, no entanto, o pior resultado será o da Venezuela, que terá retração de 10% este ano e de 6% em 2016. Mas o país não está destacado entre as grandes economias globais.
— Se nos fixarmos no Brasil e na Venezuela, vemos dois países com contração forte neste ano e com recessão no ano que vem, e isso reduz o crescimento médio do continente — disse o economista- chefe do Fundo, Maurice Obstfeld, afirmando que não há uma história única nem uma solução única para os países da região.
Obstfeld ressaltou que a queda do preço das commodities ( produtos básicos com cotação global, como soja, petróleo e minério de ferro) afeta todos os países da região, mas alguns conseguiram enfrentar melhor os problemas, principalmente aqueles que fizeram um bom colchão fiscal, como Peru, Chile e Colômbia.
Augusto de la Torre, economista do Banco Mundial para a América Latina, vê “um certo mistério” na crise econômica que o Brasil, já que o ajuste de que o país necessitava não era tão difícil. Para ele, a situação política pode explicar parte da piora das perspectivas econômicas.
— Olhando de maneira objetiva, a magnitude do ajuste externo e interno que o Brasil tem de fazer não é tão grande, é muito menor do que em muitos outros países. E o Brasil tem um sistema cambial muito flexível, que está absorvendo o processo de reacomodação macroeconômica de forma eficiente. Então, há um certo mistério de por que o Brasil está em um debate sobre política econômica tão intenso. Parece- me que isso se deve mais a fatores de caráter político e de expectativas — afirmou De la Torre.
Ele disse que “respeita muitíssimo” o esforço do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que “tem um dos trabalhos mais difíceis do planeta”. Mas De la Torre ressaltou não entender o motivo do baixo desempenho do país, uma vez que a forte desvalorização cambial gerou forte competitividade para os produtos brasileiros:
— O investimento privado não está respondendo muito rápido, apesar de um aumento de competitividade tão grande.
O economista ressaltou que a situação da América Latina é muito mais sólida que no passado. E, otimista, disse acreditar que, em “alguns meses”, o Brasil vai começar a encontrar o caminho da recuperação:
— O Brasil é um país tão grande, tem tanto potencial. Nenhuma multinacional pode se dar ao luxo de dar as costas ao Brasil.
Índia terá maior expansão: 7,3%
A estrela do crescimento global será a Índia, com expansão de 7,3% neste ano e de 7,5% em 2016. A China deve crescer 6,8% e 6,3%, respectivamente. O Fundo aumentou ligeiramente a previsão de crescimento dos Estados Unidos neste ano, de 2,5% para 2,6%, mas a projeção para 2016 passou de 3% para 2,8%. Os países da zona do euro devem crescer 1,5% neste ano e 1,6% em 2016, enquanto os emergentes terão expansão de 4% e 4,5%, respectivamente.
“Para mercados emergentes e as economias em desenvolvimento como um todo, nossa previsão é de que 2015 marcará o quinto ano consecutivo de crescimento em declínio”, afirma o documento, que defende o investimento em infraestrutura como forma de fomentar as economias emergentes, bem como a necessidade de fazer reformas de educação, trabalho e aumento da produtividade.
O economista- chefe do FMI disse que não trabalha com a possibilidade de uma recessão global e afirmou que está “confortável” com as projeções de crescimento para a China, de 6,8% este ano e de 6,3% em 2016, apesar de os últimos dados apontarem queda na atividade econômica do país.
— Os dados de manufatura podem ter vindo mais fracos, mas vemos ainda um forte crescimento no setor de serviços — disse Obstfeld, lembrando que a China consome cerca de 50% das commodities do mundo.
Colaborou Ronaldo D’Ercole
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