Ao dar posse aos membros do novo Ministério lulopeemedebista – escolhido a dedo e ao custo de um pesado toma lá dá cá –, com o qual pretende afastar a ameaça do impeachment, a presidente Dilma Rousseff deu ao País o recado claro de que não se deve esperar dela senão a determinação de “governar até 2018”. É um direito que ela tem, salvo decisão constitucional em contrário, embora seja óbvio que a maioria esmagadora dos brasileiros gostaria de vê-la pelas costas o mais rapidamente possível e sem dúvida nenhuma tomaria essa decisão se pudesse voltar às urnas para corrigir o voto dado um ano atrás.
Muito mais do que a preservação do mandato de uma chefe de governo extremamente impopular, o que está em jogo é o projeto de poder do PT, cuja continuidade se daria por uma nova eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2018. E foi por isso que o chefão petista interrompeu as hesitações de sua pupila incompetente e rebelde, forçando-a a renunciar de fato ao poder que as urnas lhe conferiram e engolir a seco um novo elenco de ministros que garantem a ele, Lula, a retomada de fato do comando político do governo. Além, é claro, de comprar – mas sem garantir a entrega – os votos do baixo clero peemedebista contra o impeachment.
O projeto de poder do PT sempre se ancorou no bem-sucedido populismo de Lula. Em condições normais uma nova candidatura do ex-presidente em 2018 seria o caminho natural para a continuidade desse projeto e seria assumida no devido tempo. Ocorre que a incompetência política e gerencial de Dilma precipitou a degradação do ciclo petista, exigindo a intervenção de Lula na extemporânea condição de candidato à Presidência.
É claro que os efeitos da atual crise econômica podem prejudicar seriamente as pretensões petistas de permanecer no poder, representadas pela indisfarçada candidatura de Lula. O ex-presidente sabe muito bem disso e não é por outra razão que decidiu agir, tolhendo a autonomia de Dilma. Se essa intervenção resultar no alívio da crise, tanto melhor. Lula estará no comando político e imporá as medidas populistas possíveis para dar um mínimo de respaldo a seu discurso de encantador de multidões. Se nada disso for viável, restará sempre a solução heroica de chutar o pau da barraca – afinal, o indigente desempenho de Dilma à frente do governo faz dela o bode expiatório ideal para ser desancado por quem se apresenta como campeão das causas populares.
Qualquer dúvida sobre a determinação de Lula de se candidatar novamente em 2018, mesmo contra prognósticos desfavoráveis, é dirimida em entrevista de seu mais fiel escudeiro publicada ontem pelo Valor. Gilberto Carvalho – que se recupera de 12 anos de trabalho duro no Palácio do Planalto passando uma temporada na presidência do Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria (Sesi) –, não usa meias-palavras quando se refere à candidatura presidencial de Lula: “Nós vamos fazer de tudo para que ele volte”. E admite: “Sem ele, seria para nós muito difícil (ganhar em 2018)”.
A estratégia de Lula implica o uso de um recurso sempre presente nas campanhas eleitorais: a vitimização do PT, elemento essencial à identificação do partido como único representante legítimo da população pobre, eterna vítima das desigualdades sociais. E vitimizar o PT significa politizar tudo o que possa ser usado a favor do partido e suas lideranças. É o caso, no momento, do julgamento das contas do governo pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O governo tenta se defender acusando o ministro-relator Augusto Nardes de estar fazendo exatamente aquilo que interessa a ele próprio, o governo, fazer: politizar a questão. Para tanto, ministros vão à televisão para insinuar que Nardes estaria agindo movido por interesses não muito claros, mas certamente escusos. É o Planalto se preparando para a probabilidade de ser derrotado no TCU: jogar a questão para o Supremo Tribunal Federal (STF). No jargão forense isso tem um nome: chicana. Para Lula e o PT é questão de sobrevivência.
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