- O Estado de S. Paulo
A presidente Dilma Rousseff tem muita pressa, mas o Congresso parece não ter pressa nenhuma e, já no dia seguinte às posses, impôs uma derrota constrangedora ao Planalto no primeiro teste após a reforma ministerial em que Dilma abriu mão de tudo um pouco, até do Ministério da Saúde, para conquistar uns votinhos a mais. Apesar de todos os esforços, faltou quórum para a aprovação dos últimos vetos presidenciais.
E por que Dilma tem pressa? Porque ela está cercada por todos os lados. O Tribunal de Contas da União tende a impor uma nova derrota a ela hoje, o PMDB continua dividido como sempre esteve, a Lava Jato só traz más notícias, a opinião pública virou inimiga. Mas o pior mesmo, e o maior motivo para a pressa, vem de algo bem mais sensível e palpável: a economia.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) avisa que o Brasil está para ser ultrapassado pela Índia, parceira no Brics, e pela Itália, da poderosa União Europeia, e vai cair de 7.ª para 9.ª economia do mundo ainda em 2015. Que saudade de quando o Brasil disputava o 6.º lugar, corpo a corpo, com a França.
“Se depender da Dona Dilma e do Dom Guido, vamos ser a quinta economia do mundo em 2016, vamos conquistar essa medalha de ouro”, provocou Lula em dezembro de 2010, no balanço de seus oito anos. Pois é, Lula, dependia da “Dona Dilma”, deu nisso...
Há quem dê de ombros para o FMI, mas e o resto? O Brasil só cai no ranking de competitividade, a indústria despenca mês a mês, a produção de carros caiu 42,1% em setembro (o pior setembro desde 2003) e o ano nem terminou, mas a retirada da caderneta de poupança já é de R$ 53,7 bilhões em 2015. Só em setembro, a sangria foi de R$ 5,3 bilhões, o maior valor em 20 anos. Quem sai busca especulações mais apetitosas. Quem fica é o pobre coitado que não tem, ou não conhece, alternativas.
E, enquanto Dilma calcula no lápis o efeito da reforma ministerial, vem o Ministério da Saúde dar uma baita má notícia: o Brasil teve 1,4 milhão de casos de dengue nos primeiros oito meses do ano, com 693 mortes. Um recorde desde 1990. Se com Arthur Chioro já deu nisso, como ficará com... como é mesmo o nome do novo ministro, aquele do “baixo clero” do PMDB na Câmara?
Dilma perdeu em poder, em mando e em imagem para ganhar um bom fôlego no Congresso com a reforma política, mas o Congresso é apenas uma parte da encalacrada. A reforma interrompeu a caminhada do PMDB rumo ao PSDB, reduziu o zunzum da renúncia e afastou a ameaça mais imediata de impeachment, mas isso não resolve todos os problemas de Dilma nem os problemas mais importantes do governo e do País. Aliás, pode não resolver nem mesmo as dificuldades dela no próprio Congresso.
A guerra continua e, assim como Dilma destacou os ministros Nelson Barbosa (Planejamento), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral da União) para tentar empurrar com a barriga o julgamento das contas e das “pedaladas” de 2014 no TCU, ela vai ter de destacar o ministério inteiro para trazer a boiada de volta para o curral.
Só depois a presidente poderá votar as questões fundamentais para o ajuste, para a estabilidade, para uma retomada do crescimento que parece cada dia mais distante. Seria no final de 2015, passou para meados de 2016, ficou para o fim de 2016 e já se fala em 2017.
Dilma armou tudo para trocar o bichado Eduardo Cunha pelo afoito Leonardo Picciani como presidente da Câmara e, assim, salvar a própria cabeça, mas pode ter caído numa esparrela: se antes ela estava nas mãos do PMDB, hoje está nas mãos do “baixo clero” do PMDB, com o resto do partido e todos os preteridos ruminando a raiva de um governo fraco. Mudam as caras e os nomes, mas a infidelidade e os riscos permanecem os mesmos. Dilma acha que salvou o mandato, mas nada melhorou para ela, para o governo e para o País. O mandato fica, mas a que custo?
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