• Eleições argentinas indicam de forma clara o desejo de mudança de um modelo político esgotado, que, em 12 anos de poder, mergulhou o país na crise
O primeiro turno das eleições na Argentina, realizado no domingo, reforçou os sinais de mudança no cenário político do país, após 12 anos de kirchnerismo. Com 97,2% das urnas apuradas, mesmo vencendo, o peronista da Frente para a Vitória (FPV) Daniel Scioli, candidato de Cristina Kirchner, obteve uma votação bem aquém do previsto, alcançando 36,9% das cédulas. O prefeito da cidade de Buenos Aires, Maurício Macri, do Cambiemos (Mudemos), ficou com 34,2%; e o peronista dissidente da Frente UNA, Sérgio Massa, com 21,3%. Os dois primeiros agora seguem para a disputa final em novembro.
Reforçam os sinais de mudança a vitória de María Eugenia Vidal, também do Cambiemos, na disputa pelo governo da província de Buenos Aires, ocupado hoje por Scioli. Ela derrotou Anibal Fernández, aliado de Cristina K.
Os analistas políticos foram unânimes em acentuar a mensagem de mudança das urnas. Scioli foi vítima dos vínculos com o governo. Na campanha, ele bem que tentou se distanciar do kirchnerismo, mas não conseguiu evidenciar com clareza as diferenças em relação à presidente. Além disso, a conjuntura eleitoral mudou completamente. Em 2011, Cristina K. contou com a solidariedade do eleitor por sua recente viuvez; a economia dava sinais de que voltava a crescer após a recessão de 2009; e a oposição estava fragmentada.
Agora, a economia não cresce desde 2012, a presidente não cumpriu qualquer de suas promessas de campanha, ao mesmo tempo em que a oposição se reorganizou, tornando-se mais competitiva. Os argentinos convivem hoje com uma inflação em torno de 25%, as reservas internacionais estão perigosamente baixas e o peso, desvalorizado. O déficit fiscal bateu em 6% do PIB, o dobro do teto considerado seguro. A insegurança generalizada desencoraja investimentos.
Não à toa, os mercados reagiram ontem com euforia. As ações argentinas negociadas em Wall Street (ADRs) e o índice da Bolsa local, o Merval, dispararam. O dólar paralelo caiu, e até os bônus em default obtiveram ganhos.
Nas quatro semanas que faltam até o segundo turno, Macri anunciou que vai tentar acertar acordos com os candidatos derrotados, sobretudo Sérgio Massa, reforçando a ideia da necessidade de mudança. Ao comentar o resultado, o candidato do Cambienos conclamou os eleitores a se unirem a ele na construção de um novo país.
Independentemente do vencedor, as eleições argentinas indicam o desejo de mudança de um modelo que fracassou, e encontra-se hoje totalmente esgotado. Até mesmo Scioli indicou que se distanciará do kirchnerismo, se for eleito. O que se espera, portanto, é que o próximo governo, seja quem for o presidente, faça a transição necessária para a retomada da prosperidade perdida e desescalada do autoritarismo, marca do clã Kirchner.
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