Cátia Seabra, Reynaldo Turollo Jr., Gustavo Uribe e Valdo Cruz – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, BRASÍLIA - Dizendo-se indignado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva responsabilizou, nesta segunda-feira (26), a presidente Dilma Rousseff pela operação de busca e apreensão na empresa LFT Marketing Esportivo, que pertence a seu filho Luis Cláudio Lula da Silva.
Nas conversas com aliados, Lula apresentou duas hipóteses para a ação da PF no escritório do filho, num desdobramento da operação Zelotes. Para Lula, ou essa é uma demonstração de desgoverno da presidente, ou uma prova de que Dilma orientou seu ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a unicamente protegê-la, ainda que seu padrinho político tenha que pagar o preço disso. Nos dois casos, afirmou, a responsabilidade é dela.
Segundo aliados de Lula, o ex-presidente se diz cada vez mais convencido de que Dilma permite investigações contra ele para se preservar.
Ainda segundo aliados, Lula está tão irritado que acusa Dilma de destruir seu legado para construir a imagem da presidente que combateu a corrupção. Ao criticar Cardozo, Lula disse que não quer "ganhar no tapetão", mas que é papel do ministro da Justiça zelar pela Constituição.
Para confirmar sua tese, Lula diz que, quando quer, o governo trabalha para se defender na Justiça, como é o caso das pedaladas fiscais, e que faria o mesmo se tivesse o interesse de poupá-lo. Nas conversas, Lula repetiu que "passou dos limites".
De acordo com petistas, ele disse também que Dilma destruiu a economia, o partido e agora quer acabar com seu legado. Na quinta-feira (29), Lula fará um discurso no encontro do partido.
A avaliação de aliados do petista é de que o episódio se trata de uma nova tentativa de enfraquecê-lo politicamente e demonstra que tem faltado pulso firme do Ministério da Justiça no comando da Polícia Federal.
Para pessoas próximas ao petista, causa estranheza o fato de a Polícia Federal não ter feito busca e apreensão a escritórios de grandes empresas que estão no foco da Operação Zelotes, como Gerdau e Marcopolo, mas ter realizado no da empresa do filho do ex-presidente.
Na nova fase da Operação Zelotes, que investiga um esquema de pagamento de propina a integrantes do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), a Polícia Federal prendeu Mauro Marcondes, sócio da Marcondes e Mautoni (M&M). O escritório teve relações com Luis Cláudio. Em 2014, contratou a LFT Marketing Esportivo, por R$ 2,4 milhões.
O ex-presidente não deve, pelo menos por enquanto, pronunciar-se publicamente. Ele tem dito que ainda não tem elementos para uma manifestação sobre o episódio. O posicionamento público ficou a cargo dos advogados do filho de Lula.
O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende o empresário, pediu à Justiça Federal e à Polícia Federal acesso a todo o material usado para justificar a medida.
Ele disse que a falta de acesso aos autos "impede que a defesa possa exercer o contraditório e tomar outras medidas cabíveis".
No início da tarde desta segunda-feira, o ex-presidente se deslocou para o Instituto Lula, escritório de onde despacha em São Paulo. O presidente do PT, Rui Falcão, o presidente do instituto, Paulo Okamotto, e o advogado Martins estiveram com Lula, mas negaram ter tratado da operação da PF.
Assessores do governo
Diante das reclamações do ex-presidente Lula sobre a operação de busca e apreensão em escritório de um de seus filhos, assessores presidenciais, reservadamente, comentaram que o petista não tem razão em suas queixas porque não foi a Polícia Federal que pediu autorização.
Segundo auxiliares, a operação, inclusive, não constava do pedido da PF e foi incluída por solicitação do Ministério Público Federal.
Dentro do governo, assessores lembram ainda que, quando Lula era presidente, a PF fez uma operação de busca e apreensão na casa de seu irmão, Genival Inácio da Silva, em 2007. Isto mostra, segundo estes auxiliares, que o governo não pode e não tem como interferir nos trabalhos da polícia.
Por isto, diz o auxiliar, mesmo que o pedido de busca de apreensão no escritório do filho de Lula tivesse sido feito pela PF nada poderia ser feito contra.
'Completamente falsas'
À noite, o Instituto Lula divulgou uma nota afirmando que "não tem qualquer fundamento" a informação de que Lula acusava a presidente de permitir as investigações para se preservar. Segundo a nota, as informações são falsas. Três interlocutores de Lula relataram o desabafo à Folha.
"Não tem qualquer fundamento a matéria do jornal Folha de S. Paulo "Em conversas, Lula responsabiliza Dilma por ação em empresa de filho". As informações nela contida são completamente falsas'.
Aniversário
O ex-presidente informou a seus aliados que não vai comemorar seu aniversário nesta terça-feira (27), limitando-se a uma confraternização no instituto Lula. A aliados, Lula disse que não há clima para festa. Nas conversas, Lula recomenda que os interlocutores ponham-se em seu lugar e pergunta como se sentiriam caso o escritório de um filho fosse alvo de investigação.
Para comprovar a tese de que há uma perseguição política, o ex-presidente afirma que não há elo entre a empresa de seu filho e a operação Zelotes, que investiga fraudes nos julgamentos do (CARF) Conselho Administrativo de Recursos Fiscais.
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