Débora Álvares, Aguirre Talento, Ranier Bragon e Daniela Lima – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Com o auxílio do PT, de manobras regimentais e de uma coordenada tropa de choque, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conseguiu nesta quinta-feira (19) atrasar a tramitação de seu processo de cassação, mas foi alvo de uma forte reação de deputados de vários partidos, que agora ameaçam obstruir as próximas sessões.
Pela primeira vez desde que assumiu a presidência da Câmara, em fevereiro, o peemedebista teve seu comando questionado no plenário de forma relevante, com críticas nos microfones e uma debandada de cerca de cem deputados, o que acabou derrubando a sessão que ele presidia por falta de quorum.
Um dos momentos mais constrangedores para Cunha, que presidia a sessão no plenário, ocorreu quando a deputada federal Mara Gabrilli (SP), do até pouco tempo atrás aliado PSDB, reclamou das manobras que haviam inviabilizado mais cedo a sessão do Conselho de Ética, colegiado que julga o processo de Cunha.
"O senhor está com medo, senhor presidente, é isso que está acontecendo?", falou Gabrilli olhando em direção a Cunha, que permaneceu calado. "Chega, senhor presidente, o senhor não consegue mais presidir. Levanta dessa cadeira, Eduardo Cunha."
Integrantes dos três principais partidos de oposição na Câmara (PSDB, DEM e PPS) ameaçam iniciar um movimento para obstruir todas as votações no plenário como forma de pressionar Cunha a se afastar do cargo.
Pela manhã, o Conselho de Ética se reuniu para a apresentação do parecer preliminar do relator, Fausto Pinato (PRB-SP), que pede investigação contra Cunha. Ele foi denunciado sob acusação de integrar o esquema de corrupção da Petrobras, além de ter escondido um patrimônio milionário no exterior.
Aliados do presidente tentaram esvaziar a sessão com objetivo de derrubá-la por falta de quórum. O número mínimo de 11 dos 21 integrantes do Conselho só foi atingido às 10h23, 53 minutos após o horário convocado.
Segundo esses aliados, a sessão nem deveria ter sido aberta, já que o regimento da Câmara estabelece meia hora para se ter quórum.
Os três integrantes titulares do Conselho do PT não apareceram, cumprindo um acordo que envolve o congelamento por Cunha dos pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Só depois de o número mínimo ter sido atingido chegou um suplente do PT, Assis Carvalho (PI). Depois, vieram Zé Geraldo (PT-PA) e Valmir Prascidelli (PT-SP).
A tropa de Cunha era composta por André Moura (PSC-SE), Manoel Júnior (PMDB-PB) e Paulinho da Força (SD-SP). Eles fizeram diversos questionamentos com o intuito de tentar cancelar a reunião –além de apontarem ausência de quórum, exigiram leitura na íntegra da ata da reunião anterior, uma clássica manobra protelatória. "Fiz apenas questionamentos pertinentes", disse Júnior.
Com o quórum atingido começou a reunião do Conselho, mas Cunha, então, abriu a chamada "ordem do dia" (o período de votações) no plenário da Câmara às 10h46, horário incomum para uma quinta, com apenas 189 deputados. Para deliberações são necessários 257.
Com a "ordem do dia" aberta, caiu a sessão no Conselho, como determina o regimento. A reunião poderia ser retomada mais tarde, mas os aliados de Cunha foram para o plenário pedir seu cancelamento sob o argumento de que o colegiado descumpriu regras regimentais. Cunha passou a presidência para Felipe Bornier (PSD-RJ), também seu aliado, que acatou o argumento.
Em reação, deputados deixaram o plenário aos gritos de "fora Cunha"
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