Por Camilla Veras Mota e Estevão Taiar - Valor Econômico
SÃO PAULO - Se é que ainda restava alguma esperança de que a economia desse sinais de reação no fim do ano, ela parece ter acabado após os primeiros dados de outubro, mês que inicia este último trimestre. Os indicadores de atividade, especialmente aqueles ligados a emprego e renda, reiteram as expectativas de desempenho frustrante das vendas no quarto trimestre e a projeção é de este que será o pior para o consumo das famílias. Em resumo: nem mesmo o Natal será capaz poupar a atividade econômica dos efeitos da recessão que atravessa a economia brasileira.
O desemprego, que tinha começado a mostrar de forma defasada os efeitos da crise, iniciou o trimestre com uma surpresa negativa e inédita: subiu pela primeira vez num mês de outubro, de 7,6% para 7,9%. Chegou, assim, ao nível mais alto para o mês desde 2007 e com a maior queda na renda média real desde dezembro de 2003, de 7% sobre o mesmo mês do ano passado. A massa salarial, por sua vez, caiu expressivos 10,4%, na mesma comparação.
Também divulgada ontem, a prévia da inflação oficial do início de novembro mostrou que o único eventual efeito 'benigno' do desemprego maior - a queda dos preços - não está se materializando. No acumulado de 12 meses, o IPCA-15 quebrou a barreira dos dois dígitos e atingiu 10,28%. O segmento de serviços, embora tenha desacelerado na virada do mês, prossegue em nível bastante alto: 8,45% em 12 meses.
À deterioração do mercado de trabalho mais forte que o antecipado e à inflação persistentemente alta, afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, somam-se os juros altos e o patamar elevado de endividamento das famílias. "Não há um fator que indique uma mudança na tendência [de desaceleração do consumo]", avalia.
Assim, não existe expectativa de inflexão da curva negativa que se aprofunda na Pesquisa Mensal do Comércio - em setembro, o indicador acumulado no ano teve o pior resultado de 2015, com recuo de 3,3%. "As famílias não podem se endividar mais. A tendência no Natal é usar o 13º salário para ajustar as finanças", afirma Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos.
Como principal componente do Produto Interno Bruto (PIB) pelo lado da demanda, o consumo das famílias deve apurar no último trimestre o pior desempenho de 2015, na comparação com o mesmo período do ano passado, e encolher 4,5%, calcula o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. No ano, o consumo deve recuar 2,9%, enquanto o PIB deve cair 3,3%. Em 2016, o consumo doméstico deve retrair 1,6%. "Só deve estabilizar no último trimestre de 2016", diz.
A equipe da Rosenberg Associados ressalta que a deterioração do mercado de trabalho continuará sendo transmitida ao consumo nos próximos meses, reforçando a expectativa de que a economia não deve sair da recessão em 2016. A consultoria projeta queda da renda média real de 3,1% neste ano, com contração de 4,4% da massa salarial - este seria o primeiro resultado negativo em um ano fechado na série da PME, que começa em 2002. Avaliação semelhante também é feita por Zeina, da XP. "Os indicadores não param de piorar. Não há alívio".
Nenhum comentário:
Postar um comentário