Por Andrea Jubé e Fernando Exman – Valor Econômico
BRASÍLIA - Afastado, ainda que temporariamente, o risco de impeachment, a presidente Dilma Rousseff decidiu retomar as rédeas do segundo mandato. Na falta de anúncios, ela mostrará que o governo está presente no dia-a-dia dos brasileiros. Para isso, ela vai intensificar a exposição pública em agendas positivas, retomar viagens regionais e internacionais, enquanto age para tentar recuperar a economia. A avaliação interna no Palácio do Planalto, contudo, é de que se a economia não ganhar fôlego, a crise política não estancará.
Auxiliares presidenciais ouvidos pelo Valor avaliam que esmoreceu o risco de avançar no Congresso Nacional o processo de impeachment, mas a crise política ainda não foi debelada. O governo é comparado a um "paciente que estabilizou": respira sem aparelhos, mas "não anda nem se alimenta sozinho".
A manutenção de vetos presidenciais sensíveis, como o aumento salarial aos servidores do Judiciário e a vinculação do reajuste do salário mínimo aos benefícios do INSS - a derrubada de ambos geraria despesa extra de R$ 37 bilhões até 2019 -, foi uma vitória, mas obtida no limite. Por seis votos, o veto ao reajuste do Judiciário foi mantido.
A temperatura da crise baixou, mas a base continua gelatinosa. Dilma voltou a respirar, mas ainda não fez nenhum aceno concreto para afinar a relação com os aliados. Ao contrário, foi considerada desastrosa sua decisão de cancelar jantar com a bancada do PDT no Palácio da Alvorada na quarta-feira. Ela não compareceu, não pediu desculpas e ainda pediu que os deputados voltassem ao Congresso para a sessão de análise dos vetos. E era uma agenda que vinha sendo adiada por um mês. "Repercutiu mal em outras bancadas, acham que foi só a crise esfriar e o governo voltou a ser arrogante", disse um auxiliar de Dilma.
Apesar do tropeço, Dilma se esforçará para alavancar o segundo mandato. Em dois dias, ela já participou de quatro eventos públicos. Na quarta-feira, abriu a 2ª Conferência Global de Alto Nível sobre Segurança do Trânsito, com delegações de mais de 120 países, onde ressaltou que o uso da bicicleta reduz emissões de CO2 e citou avanços brasileiros, como a Lei Seca.
Ontem ela abriu o 20º Congresso Mundial da Consumers International, um evento das Nações Unidas sobre consumo mundial. No fim da manhã, comandou solenidade com comunidades quilombolas pelo Dia Nacional da Consciência Negra, onde embalou no colo a bebê de uma beneficiária. À tarde, sancionou a lei que instituiu o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), que em cinco meses de vigência, preservou 30,2 mil empregos, segundo o Ministério do Trabalho.
"Ela está mostrando que tem governo atuando na segurança no trânsito, nos direitos do consumidor, na preservação dos empregos", traduziu um assessor palaciano. Ele ressalta, contudo, que o esforço será inócuo sem a reação da economia. Segundo esta fonte, o governo precisa dar sinais efetivos de controle da inflação, de futura queda dos juros, de retomada da confiança dos investidores. Setores do governo e lideranças da base aliada defendem o uso de uma parte das reservas internacionais, de US$ 370 bilhões, para sanear a economia.
A presidente também continuará viajando. Em 10 dias, ela embarca para Japão e Vietnã. Depois chega a Paris, na França, onde participa do encontro de cúpula sobre alterações climáticas (CoP-21), ao lado de mais de 100 chefes de Estado e de governo. Apesar dos atentados terroristas, ela não cancelará a participação no evento.
No plano nacional, Dilma manterá o foco no Minha Casa, Minha Vida. Em um mês e meio, ela já entregou casas do programa em Barreiras (BA), Nova Friburgo (RJ) e no Paranoá, no entorno de Brasília. No mesmo período, inaugurou um laboratório de biotecnologia em Piracicaba (SP), participou de evento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em São Bernardo do Campo (SP), lançou a pedra fundamental de uma fábrica de celulose em Três Lagoas (MS) e um trecho do Canal do Sertão Alagoano (AL).
Dilma também tenta driblar o noticiário negativo. Além da ameaça do impedimento legal e dos desdobramentos das denúncias de corrupção, somente nos últimos 30 dias Dilma enfrentou: o julgamento das "pedaladas fiscais" de 2014 no Tribunal de Contas da União (TCU), que rejeitou as contas de seu governo, a revisão da meta fiscal deste ano para um déficit de R$ 119 bilhões e a maior tragédia ambiental do país, com o rompimento de duas barragens da mineradora Samarco em Minas Gerais. Ela foi convidada para o Congresso da Juventude do PT, onde apareceria hoje ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas foi aconselhada a evitar a agenda. Haveria saia justa, já que os jovens reivindicam a recriação da Secretaria Nacional da Juventude, que ela extinguiu na recente reforma administrativa.
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