Por Cristiane Agostine e César Felício - Valor Econômico
SÃO PAULO - O Instituto Lula confirmou, por meio de nota divulgada em sua página na internet, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fato visitou o triplex no edifício Solaris, no Guarujá (SP), em companhia do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro e de familiares, conforme relataram testemunhas em inquérito tocado pelo Ministério Público de São Paulo. Mas a nota mostra uma reação dura do ex-presidente à iniciativa do MP paulista em investigá-lo por suposta ocultação de patrimônio, em um texto longo e acompanhado de fac-símile de diversos documentos, como recibos e contratos.
A nota qualifica o noticiário que vincula Lula ao imóvel como "armação" e "um escândalo a partir de invencionices", que estariam partindo dos "adversários de Lula e sua imprensa". O texto nega que o casal seja o verdadeiro dono de um imóvel de propriedade da empresa investigada por irregularidades em contratos públicos.
A nota sustenta que a mulher de Lula, Marisa Letícia, era sócia-cotista da Bancoop, cooperativa dos bancários, incorporadora original do empreendimento, desde 2005. Inicialmente, estava interessada em comprar um apartamento de 82 metros quadrados no edifício. Em 2009, quando a OAS sucedeu à Bancoop como incorporadora, Marisa Letícia teria perdido o direito à reserva deste imóvel, mas mantendo a prerrogativa de escolher outra unidade.
Segundo o texto, publicado na página do instituto na noite de sábado, Lula e sua mulher Marisa Letícia estiveram no triplex em 2014, mas teriam avaliado que o imóvel, com 215 metros de área privativa, "não se adequava às necessidades e características da família, nas condições em que se encontrava". A nota afirmou que esta havia sido a única vez em que o ex-presidente visitara o imóvel, mas que Marisa Letícia e o filho de Lula, Fábio Luís, estiveram em outra ocasião no apartamento, "quando este estava em obras". Em novembro de 2015, Marisa Letícia teria formalizado termo de desistência da compra de imóvel e pedido de resgate das cotas da cooperativa, em função do noticiário. " As notícias infundadas, boatos e ilações romperam a privacidade necessária ao uso familiar ", diz a nota.
O termo de desistência foi assinado com data retroativa a 2009. De acordo com a nota, tratava-se de um formulário padrão, de seis anos atrás, apresentado aos associados na ocasião em que tinham que optar entre resgatar a cota ou fazer a opção por novo imóvel.
Lula deve depor no inquérito sobre a Bancoop no próximo dia 17, perante o promotor Cássio Conserino, já na condição de investigado.
O ex-presidente demonstrou na nota preocupação com duas outras operações em que pode ser potencialmente atingido: a Zelotes, que apura a interferências na redação de textos de medidas provisórias; inclusive de Mauro Marcondes, de quem o filho do ex-presidente, Luis Claudio Lula da Silva, recebeu R$ 2,5 milhões por serviços de consultoria; e a Lava-Jato, que deflagrou na semana passada a Operação Triplo X, para apurar o fato de uma offshore panamenha usada pela OAS em casos investigados pela Lava-Jato ser dona de um imóvel no edifício Solaris.
No caso da Zelotes, a nota afirma que "caminham para o fracasso tentativas de envolver o ex-presidente com denúncias levianas alimentadas pela imprensa". Em relação à Lava-Jato, a nota se apoia nas declarações de investigadores de que Lula não está sendo formalmente investigado. A nota encerra com uma aposta de que Lula deve sair fortalecido politicamente das suspeições em torno de seu patrimônio. "Sem ideias, sem propostas, sem rumo, a oposição acabou no Guarujá. Na mesma praia se expõem ao ridículo uma imprensa facciosa e seus agentes públicos partidarizados".
O documento é um indicativo de uma reação que será partidária. O PT deve usar a propaganda partidária na televisão, que será veiculada a partir de amanhã, para defender-se das denúncias de corrupção. Na mira das investigações da Operação Lava-Jato, a legenda tenta responder aos ataques e planeja pelo menos dois atos neste mês em apoio a Lula.
A propaganda deve seguir a tese de que o PT tem sido atacado por conta das ações voltadas aos mais carentes nas gestões de Lula e Dilma e que há uma tentativa de acabar com a legenda e com Lula. Na sexta-feira, o presidente nacional da legenda, Rui Falcão, afirmou, em nota divulgada pelas redes sociais, que a oposição quer "derreter" o ex-presidente petista. Lula se reuniu neste dia com seus advogados para traçar a estratégia jurídica e de comunicação para responder às suspeitas de envolvimento em esquemas ilícitos.
Na própria sexta, o instituto Lula divulgara outra nota, desta vez para confirmar que frequenta em Atibaia (SP) "um sítio de propriedade de amigos da família". A nota foi motivada pela notícia do jornal "Folha de S.Paulo" de que o imóvel rural havia sido reformado pela Odebrecht, de acordo com fornecedores. A empresa negou a informação. O sítio é de propriedade dos sócios de Fábio Luís na empresa Gamecorp, Fernando Bittar e Jonas Suassuna.
A reação do PT às investigações da Lava-Jato deve ser discutida no dia 15, em reunião com cerca de 40 petistas em um hotel em São Paulo, que deve contar com a presença de Lula. Na ocasião, os petistas devem prestar solidariedade ao ex-presidente. Lula deve ser alvo de novas homenagens dos petistas na comemoração do aniversário do PT, em 26 e 27 de fevereiro, no Rio de Janeiro. (colaborou André Guilherme Vieira)
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