• Ex-presidente diz que desistiu de imóvel em novembro de 2015
Petista alega ter feito uma visita, embora zelador do Edifício Solaris tenha afirmado que ele foi ao local duas vezes. Promotor vê incoerência na explicação
O ex-presidente Lula admitiu ontem, em nota, que visitou o tríplex em Guarujá na companhia do então presidente da construtora OAS, Léo Pinheiro, condenado na Lava- Jato. Lula voltou a negar ser dono do imóvel e informou que, em 26 de novembro de 2015, sua mulher, Marisa Letícia, assinou um documento desistindo de participar do empreendimento. A suposta desistência, porém, só ocorreu depois de O GLOBO ter noticiado o caso. A nota diz que o ex-presidente esteve uma única vez no edifício, embora, em depoimento, o zelador José Afonso Pinheiro tenha afirmado que ele foi ao local duas vezes. Na visita, Lula e a mulher avaliaram que o imóvel “não se adequava às necessidades da família”. Segundo a nota, “notícias infundadas, boatos e ilações romperam a privacidade necessária ao uso”. O promotor Cássio Conserino considerou incoerente a explicação dada pelo Instituto Lula.
Lula visitou tríplex
• Petista admite ida a prédio com executivo da OAS, mas nega ser dono do imóvel; promotor vê incoerência
- O Globo
- SÃO PAULO- O ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem, em nota divulgada pelo Instituto Lula, que visitou o tríplex no edifício Solaris, na praia das Astúrias, no Guarujá, apesar de ter negado novamente ser dono do imóvel. Na nota, o petista disse que esteve no apartamento, junto com o então presidente da construtora OAS, Léo Pinheiro, condenado na LavaJato a 16 anos pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A visita ocorreu um ano após a OAS concluir a construção do edifício.
A nota diz que Lula esteve uma única vez no edifício, embora, em depoimento ao Ministério Público estadual, o zelador do prédio, José Afonso Pinheiro, tenha afirmado que o ex- presidente foi ao local duas vezes. Na ocasião da visita, segundo o instituto, Lula e sua mulher, Marisa, avaliaram que o imóvel “não se adequava às necessidades e características da família, nas condições em que se encontrava”.
A nota do petista dá a entender que, depois da visita de Lula e de Marisa, a OAS decidiu fazer uma reforma no tríplex para adequá- lo às necessidades da família. O Instituto Lula diz que a família desistiu do apartamento, em 26 de novembro de 2015, porque, “mesmo tendo sido realizadas reformas e modificações no imóvel ( que naturalmente seriam incorporadas ao valor final da compra), as notícias infundadas, boatos e ilações romperam a privacidade necessária ao uso familiar do apartamento”.
Em depoimento ao MP, o engenheiro Armando Dagre, da Talento Construtora, contratada pela OAS para fazer as reformas, disse que a obra custou R$ 777 mil. A obra incluiu a instalação de um elevador privativo. A assessoria do ex- presidente reconhece que Marisa e Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do casal, estiveram na unidade durante a reforma, sem especificar quantas vezes. “Em nenhum momento Lula ou seus familiares utilizaram o apartamento para qualquer finalidade.”
“Escândalo a partir de invencionices”
O Instituto Lula afirmou na nota que os adversários do petista e a imprensa “tentam criar um escândalo a partir de invencionices”. A nota tem o título de “Os documentos do Guarujá: desmontando a farsa”. O Instituto Lula afirma que Lula está processando jornalistas do GLOBO em grau de recurso, mas não deixa claro que o ex-presidente perdeu em primeira instância. E que ele só desistiu do imóvel após a publicação de reportagem do jornal, em agosto do ano passado. O MP de São Paulo investiga ocultação de patrimônio por parte do ex- presidente com relação ao imóvel, e a força- tarefa da Operação Lava- Jato põe o tríplex numa lista de 11 apartamentos suspeitos de terem sido usados para lavar dinheiro de contratos da Petrobras.
Na nota, Lula diz agora que, quando Marisa Letícia se associou à Bancoop ( Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo), em 2005, escolheu um apartamento comum, e não o tríplex. No termo de adesão à Bancoop, divulgado junto com a nota, está escrito que o casal ficaria com a unidade 141 do edifício, um apartamento de três quartos. Essa unidade é padrão do prédio, com 82,5 metros quadrados, de acordo com o instituto. Até então, a defesa do ex-presidente afirmava apenas que Marisa Letícia tinha cotas no empreendimento, não vinculadas a qualquer apartamento.
O promotor Cássio Conserino, do Ministério Público de São Paulo, que apura o caso do tríplex, disse ontem à noite que viu incoerência nas explicações apresentadas pelo Instituto Lula.
— É incoerente com as próprias notas do instituto. Antes diziam que tinham uma cota e agora eles têm uma unidade habitacional específica. Eles não sabem o que têm — disse o promotor.
O instituto acrescenta ainda que, até setembro de 2009, a família Lula investiu R$ 179.650,80 (R$ 286.479,32 em valores de hoje) no apartamento. Afirma também que, naquela época, a Bancoop passava por uma crise e transferiu empreendimentos para incorporadoras, entre elas a OAS. Quando a OAS assumiu o prédio do Guarujá, Marisa Letícia deixou de fazer os pagamentos mensais porque não recebeu mais boletos da Bancoop, e também não fez a adesão ao contrato com a nova incorporadora. Por isso, perdeu a reserva do 141.
Entre 2009 e 2014, pelo que diz a nota, a família de Lula não teria tentado receber de volta os R$ 179.650,80 que havia pago à Bancoop. Ao todo, 6 mil cooperados perderam dinheiro na operação da Bancoop. Segundo o Instituto Lula, só em 2014, um ano após a obra ser concluída, o ex- presidente e a sua mulher visitaram, junto com Léo Pinheiro, uma unidade à venda no prédio: o tríplex 164- A, de 215 metros quadrados.
Ainda na versão de Lula, a desistência do apartamento ocorreu em 26 de novembro de 2015, por causa das notícias sobre o imóvel. O documento de desistência assinado por Marisa e encaminhado pelo Instituto Lula tem a data de 2009, e os valores que o casal teria direito de receber de volta são os da época ( sem correção pela inflação). Segundo o instituto, “como se trata de um formulário padrão, criado na ocasião em que os associados foram chamados a optar entre requerer a cota ou aderir ao contrato com a OAS ( entre setembro e outubro de 2009), ao final do documento consta o ano de 2009”. O dinheiro ainda não começou a ser devolvido.
Lula também alega que não ocultou patrimônio, como acusa o promotor Cássio Conserino, porque declarou, em seu Imposto de Renda, a “cota- parte” da Bancoop que possuía.
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