• Ministro critica celeridade, mas diz que Dilma tem os 172 votos necessários para permanecer no cargo
Isabel Braga, Eduardo Barreto, Catarina Alencastro, Eduardo Bresciani, Júnia Gama – O Globo
- BRASILIA- Dentro da estratégia de garantir celeridade total ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB-RJ), disse ontem que é possível votá- lo, no plenário da Casa, em 30 dias, como defende a oposição. O ministro Jaques Wagner (Casa Civil) reagiu à aceleração do processo após as manifestações do último domingo, mas afirmou que o governo seguramente terá mais dos que os 172 votos para barrar o processo na Câmara. A oposição, por sua vez, promete trabalhar para acelerar a análise do processo.
Eduardo Cunha trabalha para que a comissão especial do impeachment, composta por 65 integrantes, seja eleita e instalada até o final desta semana. Ele avisou que fará a eleição no dia seguinte ao julgamento do rito pelo Supremo Tribunal Federal — previsto para esta quarta-feira — e que ela poderá ser instalada no mesmo dia. Segundo ele, no entanto, o prazo de duração do processo de impeachment na Câmara dependerá do quorum nas sessões plenárias da Casa e de eventuais percalços da tramitação.
— Não é correr. Serão 15 sessões. Pode fazer em três semanas ou fazer em cinco semanas, depende do quorum. Darei o prazo para eleger ( e indicar os integrantes da comissão) de um dia para o outro e vamos fazer a eleição na quinta e instalar, talvez na própria quinta, ou na sexta — disse Cunha.
O ministro Jaques Wagner disse que é preciso conversar com os líderes aliados e ver a montagem da comissão especial.
— Vamos ter que cuidar da montagem da comissão e conversar com todo mundo. Tenho tranquilidade em dizer que nós temos tudo para barrar esse processo ainda na Câmara. O número que você precisa são 172, eu acho que seguramente nós teremos mais do que isso — afirmou Wagner.
Para o ministro, o impedimento de Dilma paralisaria o Brasil pelo resto do ano e não deve ser usado como solução para a crise econômica.
— O impeachment não é remédio para crise nem para impopularidade. Tem que ser a exceção da exceção. O processo está sendo muito mais político, de tentar consertar a economia — disse Wagner, rechaçando comparações com o impeachment do ex- presidente Fernando Collor: — Qual é a casa da Dinda aqui? Não tem. No plenário do Senado, Lindbergh Farias (PTRJ) atacou o vice-presidente Michel Temer e afirmou que o documento peemedebista “Uma ponte para o Futuro” é um “programa do golpe”. O senador Romero Jucá (PMDB- RR), que assumiu no sábado a vice- presidência do PMDB, censurou o colega dizendo que Michel Temer não pode ser chamado de golpista e destacou a crise entre o PMDB e o governo:
— O que nós temos que ver é o seguinte: da eleição para cá, esse processo de entendimento, de parceria foi se desconstruindo, ele foi se esfacelando.
No Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff reuniu- se com os seis ministros do PMDB. Segundo relatos, os ministros disseram à presidente que irão trabalhar para que os oposicionistas dentro do PMDB tenham uma convivência “respeitosa” com aqueles que defendem a permanência no governo. Na contramão do tom de afastamento adotado na convenção do partido sábado, os ministros reafirmaram o apoio à presidente.
— A convenção no sábado foi muito emocional, então nós nos sentimos na obrigação, depois dos movimentos de rua de domingo, de ter conversa com a presidente Dilma. Fomos reafirmar o óbvio: que somos governo, votamos nela, temos um vice-presidente que foi eleito com ela, administramos juntos e nossa posição é muita clara de apoio à presidente Dilma e contrário ao impeachment — disse o ministro da Saúde, Marcelo Castro, que defende que o partido, mesmo se decidir desembarcar da base aliada nos próximos 30 dias, respeite as posições daqueles que desejam permanecer no governo.
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