- Folha de S. Paulo
Por que fazer manifestações, se temos as pesquisas de opinião? A pergunta, disparada por meu filho David, de 14 anos, levanta uma questão interessante.
Desde abril de 2015 sabemos que ao menos 85 milhões dos 140 milhões de eleitores brasileiros (60%) são favoráveis ao impeachment de Dilma Rousseff. O fato de 3,5 milhões terem ido às ruas no domingo para pedir o afastamento não acrescenta muita informação nova ao dado anterior. Ainda assim, as manifestações são vistas como um divisor de águas, que tornam o impeachment se não inevitável, ao menos mais provável.
A resposta para o paradoxo é conhecida há tempos pelos psicólogos que estudam risco. Cálculos racionais são indispensáveis para entender um fenômeno, mas são péssimos motivadores. Se nossos ancestrais procurassem computar qual era a chance real de ser devorados por leões antes de fugir quando encontravam esses felinos, nós não estaríamos aqui. Se estamos, é porque a evolução nos dotou com um sistema rápido de tomada de decisões. Acionado por emoções como medo, raiva, nojo, ele nos faz agir antes de pensar.
Políticos, a exemplo de outros seres humanos, têm maior probabilidade de agir quando motivados por por coisas que lhes causam "paúra", como eleitores protestando nas ruas, do que por pesquisas de opinião. O resultado disso é que as manifestações deverão catalisar o movimento de abandono do governo pelo que restou da base aliada. Se até aqui dava para apostar que Dilma contava com os 171 deputados necessários para bloquear o impeachment na Câmara, fazê-lo agora é mais arriscado.
A essa altura, o melhor é tentar resolver rapidamente a crise política, para não prolongar mais a recessão. A dupla renúncia de Dilma e Temer seria o menos traumático para o país, mas é improvável que ela ocorra, pois os sentimentos de grandeza e desprendimento não motivam tanto quanto a obstinação e a ambição.
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