É cada vez mais evidente a gravidade da crise moral que assola o País. Não são casos isolados. Na verdade, escassos são os bons exemplos. Nessa constelação de políticos envolvidos em escândalos de corrupção, dois personagens do PMDB merecem especial menção – os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros –, seja pelos cargos que ocupam, seja pelo conteúdo e frequência das denúncias contra eles.
Longe de fazerem sombra às denúncias de corrupção envolvendo o PT, Cunha e Calheiros são exemplos de como a política do lulopetismo tem uma harmoniosa convivência com a corrupção. Diante da contumácia das denúncias e escândalos, verifica-se que o lulopetismo não apenas conviveu com o ilícito, mas ofereceu-lhe generosos estímulos.
Renan Calheiros vem colecionando inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Apenas no âmbito da Operação Lava Jato já são sete procedimentos para investigar denúncias envolvendo o presidente do Senado. No inquérito mais recente, autorizado pelo ministro Teori Zavascki, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pretende apurar se Renan cometeu crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro com base em suspeitas apontadas por Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará. Segundo a PGR, há suspeita de repasse “de forma oculta e disfarçada, de vantagem pecuniária indevida ao parlamentar”. De acordo com Ceará, Renan teria recebido R$ 2 milhões de Alberto Youssef para evitar a instalação da CPI da Petrobrás. Ceará também relatou que, noutra ocasião, teve conhecimento de recebimento pelo presidente do Senado de R$ 1 milhão, que seria parte do pagamento de uma dívida da empreiteira Camargo Côrrea com Youssef.
Além dos inquéritos da Lava Jato, Renan foi denunciado pela PGR por suposto recebimento de dinheiro da construtora Mendes Júnior para apresentar emendas em benefício da empreiteira, durante sua primeira passagem pelo comando do Senado (2005-2007). Em troca, o senador teria as despesas pessoais da jornalista Monica Veloso, com quem mantinha relacionamento extraconjugal, pagas pela empresa. Na ocasião, Renan apresentou ao Conselho de Ética do Senado recibos de venda de gado em Alagoas, na tentativa de comprovar um ganho de R$ 1,9 milhão. Há sérias suspeitas, no entanto, de que as notas sejam frias, e Renan foi acusado por uso de documento falso, falsificação de documentos e peculato.
O currículo de Eduardo Cunha também é extenso. No início do mês, o STF autorizou a abertura de mais um inquérito – é o terceiro – contra o presidente da Câmara no âmbito da Lava Jato. Segundo a acusação, há indícios de que o parlamentar teria recebido propina de R$ 52 milhões pelas obras do Porto Maravilha. Se há mais inquéritos contra Renan, por sua vez Cunha foi o primeiro parlamentar a se tornar réu num processo da Operação Lava Jato, em que é acusado de recebimento de propina em contratos de navios-sonda com a Petrobrás.
Há também no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados o famoso processo por quebra de decoro parlamentar contra Cunha, no qual ele é acusado de mentir à CPI da Petrobrás sobre contas secretas no exterior. Depois, descobriu-se que o deputado era o usufrutuário de ativos geridos por trustes estrangeiros. O processo pode levar à cassação de Cunha.
É lamentável que o Poder Legislativo, símbolo por excelência da democracia, seja presidido por gente com esse tipo de folha corrida. Mas não menos lamentável é a presidente Dilma Rousseff aproveitar-se do antecedente dos dois para barganhar apoio para sua sobrevivência. Enquanto pôde, negociou com Cunha. Depois, apoiou-se acintosamente em Renan. Mais recentemente, antes de aceitar o convite para comandar a Casa Civil, Lula fez questão de certificar que teria o apoio de Renan, conforme noticiou o Estado. É terra devastada depois de 13 anos de lulopetismo.
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