• À medida que o impeachment avançava, a presidente foi adotando postura mais agressiva e linguagem radicalizada, mas sem interferir na evolução dos fatos
Enquanto se aproxima a votação no plenário da Câmara, domingo, da admissibilidade do impeachment, a presidente Dilma escala no tom dos comícios que tem patrocinado no Planalto, local inadequado a arroubos partidários e ideológicos.
Entre bandeiras e faixas, com predominância do vermelho, e inevitáveis punhos cerrados no ar, a presidente tem puxado palavras de ordem, entre elas o mantra do “não vai ter golpe”. Slogan descabido, porque o processo de impedimento da presidente tramita conforme regras constitucionais, lapidadas pelo próprio Supremo Tribunal, responsável por definir o rito do processo, já iniciado com derrota da presidente em comissão especial da Câmara.
Pelo salão palaciano improvisado de palanque já passaram sem-terra e sem-teto com ameaças de parar o país, e sindicalista da CUT prometendo “pegar em armas” contra o “golpe”. Um despautério, para se dizer o mínimo.
Usa-se um espaço público para discursos e slogans radicais voltados a uma parcela pequena da sociedade, de militantes e membros de organizações ditas sociais e sindicatos, com grande dependência do Erário. Discursos feitos em voz esganiçada e slogans coreografados podem manter a militância unida, e mais nada. O resto do país segue o curso com posição amplamente majoritária a favor da aprovação do impeachment, de acordo com pesquisas.
O ex-presidente Lula, depois de ser levado de forma coercitiva a depor na Lava-Jato, em São Paulo, fez o discurso ofídico da ameaça da jararaca ferida. Depois, em manifestação na Avenida Paulista, baixou o tom e tentou ressuscitar a versão “Lulinha, paz e amor”.
A frustração da operação de seu desembarque com toda força no Ministério de Dilma, para salvar o governo com sua capacidade de negociar (cargos e orçamentos), tirou-o um pouco do foco nos últimos dias. Mas sem que isso signifique que não atue nos bastidores, a partir de um QG improvisado em um hotel de Brasília.
Porém, no reino do fisiologismo, uma coisa é negociar com o ministro todo-poderoso Lula, outra, com o grande líder, mas ele sem qualquer poder formal. E sua nomeação será decidida no STF só depois da votação de domingo.
Tudo sempre pode mudar até a hora da votação. Até ontem, porém, se ampliavam as evidências de debandadas na base do governo. Movidos pela expectativa de poder, deputados procuram se aproximar do Palácio Jaburu, do vice, e afastar-se do Planalto.
O PP, a maior legenda da base depois da saída do PMDB, tomou o mesmo caminho. O PTB, idem, enquanto o PR deve liberar a bancada. E talvez o PMDB feche questão hoje, para obrigar todos a votar no impedimento. As más notícias para o Planalto não param de chegar.
É razoável supor que a elevação dos decibéis se deva a isso. Seria um sinal de fraqueza e desalento diante a direção que os ventos tomam.
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