Se o processo de impeachment for aprovado pelo plenário da Câmara, no próximo domingo, não o último mas o maior obstáculo a vencer, a perspectiva do governo Temer passará a dominar amplamente os círculos políticos. Com o reforço do apoio dos meios empresariais. E carente de um salto significativo de legitimidade social, desafio que será dificultado, de um lado, pelo envolvimento do PMDB com as investigações do petrolão e paralelas, como principal cúmplice do PT nos mandatos Lula e Dilma; e, de outro, pela guerra contra o novo governo que será deflagrada pelo lulopetismo. Num contexto em que o enfrentamento das causas da aguda crise econômica e do enorme descontrole populista das contas públicas terá de ser desencadeado sob fortes reações do PT e seus aliados esquerdistas. Uma implicação desses problemas será a necessidade de maior relacionamento do presidente Temer com o PSDB e demais partidos da atual oposição.
Mas a expectativa (e a cobrança de urgência) de tal enfrentamento, por parte de amplo leque de forças políticas e sociais, dados os múltiplos e crescentes efeitos dessas crises, evidenciam a incapacidade de gestão e de respostas a elas pela presidente Dilma, constituindo a motivação básica do apoio ao processo deimpeachment como caminho necessário para a troca de governo. Com apostas de que o novo contará com respaldo político-partidário para assegurar um padrão satisfatório de governabilidade, hoje praticamente inexistente, e para desencadear reformas estruturais prioritárias. E com a de que conviva bem, política e institucionalmente, com as investigações contra a corrupção, avaliadas por expressiva maioria da sociedade como instrumento relevante para mudança das relações econômicas público-privadas.
Em contraposição a esse cenário (agora para a barragem dele no Congresso ou por meio de recursos ao Judiciário e, sendo isso frustrado) o lulopetismo está usando e usará todas as armas possíveis. Entre elas, o balcão de negócios (comandado pessoalmente por Lula) em troca de votos (ou ausências) de deputados nas decisões da Câmara sobre o referido processo; um “pacotão doimpeachment”, de medidas econômicas de estímulo ao consumo, financiadas pelos bancos públicos e com o uso de recursos do FGTS – medidas que, efetivadas, redundarão em novas pedaladas fiscais; e ataques de extrema agressividade desferidos ontem pela presidente Dilma contra Michel Temer, qualificado de chefe de conspiração e traidor. E, à frente, ações violentas – de invasão de terras e bloqueio de estradas e vias urbanas contra o “governo golpista que assaltou o poder”, proclamadas por líderes dos “movimentos sociais” vinculados ao PT até em evento realizado no Palácio do Planalto com a presença da presidente. Medidas e ameaças às quais se somará, confirmado oimpeachment, a implementação de proposta articulada por Lula e pelo presidente do Senado, Renan Calheiros: a de “eleições gerais”. Que serviria para manter a precária legitimidade inicial do governo Temer. E que tem um objetivo bem maior: uma “reforma político-institucional” que inclua o bloqueio e o esvaziamento da operação Lava-Jato. Prioridade comum dos dois articuladores.
Cabe, porém, prever que a concretização de tais ações “contra o golpe das elites e da mídia reacionária”, que a CUT e o MST têm antecipado, começará a inviabilizar-se com a perda dos milhares de cargos e de vultosos recursos da máquina federal, usados inclusive para financiamento e aliciamento dos “movimentos sociais” esquerdistas. E com um efeito, incontrolável, doimpeachment de Dilma na vida do PT: o desencadeamento de agudo confronto entre a Executiva nacional lulista e os defensores de propostas de refundação do partido ou montagem de outro.
Um governo Dilma/Lula – O cenário de continuidade do mandato de Dilma – cuja viabilidade perde consistência dia a dia –, ao mesmo tempo em que contrariará e chocará a grande maioria da sociedade, manterá acesa a crise política, com o Executivo ainda mais fragilizado diante do Congresso e na condição de alvo direto da operação Lava-Jato. E agravará as crises econômica e fiscal, com desconfiança ainda maior dos investidores internos e externos e do conjunto do mercado, bem como com um aprofundamento do descontrole das contas públicas. Num governo em que uma presidente decorativa terá de submeter-se por inteiro ao controle de Lula (ser este conseguir continuar escapando do juiz Sérgio Moro). Como presidente de fato que, na tentativa tresloucada de resposta ao crescente desemprego partirá, depois de troca da direção do Banco Central, para o uso das reservas cambiais do país. Ou seja, um cenário trágico para o qual, muito provavelmente, está se configurando a alternativa.
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Jarbas de Holanda é jornalista
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