Por Thiago Resende, Raphael Di Cunto e Fabio Murakawa – Valor Econômico
BRASÍLIA - Num efeito cascata, o PSD e PTB na Câmara também anunciaram ontem que, em ampla maioria, votarão a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff. As novas deserções na base aliada foram firmadas um dia depois de o PP romper com o governo. Hoje, é a vez da bancada do PMDB tomar uma posição: por larga margem oposicionista, o líder da sigla, Leonardo Picciani (RJ), cuja aliança com o Palácio do Planalto dá sinais de ruptura, deve ter que orientar o grupo a votar contra a presidente, apesar de manter sua opinião pelo arquivamento do processo.
Do PSD, o governo esperava que o líder da bancada, Rogério Rosso (DF), iria liberar a bancada. Mas, diante da pressão de dissidentes, estimada em cerca de 30 dos 38 deputados, o partido "marcará" no painel de orientação a favor do impeachment. Rosso defende a abertura de processo contra Dilma.
"Essa é uma votação que tem que ser marcada uma posição. PSD não se sentiria confortável em manter liberado", explicou o líder, que costumava participar das reuniões semanais da base de apoio ao governo realizadas no Palácio do Planalto. Não houve fechamento de questão no PSD. Assim, deputados que votarem pela continuidade de Dilma não serão punidos.
Presidente licenciado do partido, o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, participou da reunião que deu aval à decisão dos deputados. "Ele disse que a bancada é soberana", relataram parlamentares. Segundo Rosso, a permanência de Kassab no ministério é questão pessoal dele.
Outro líder que frequentava o Planalto, Jovair Arantes (PTB-GO) reuniu a bancada, que decidiu também pela orientação a favor do impeachment. Jovair é o relator do pedido de deposição de Dilma e recomendou a abertura de processo contra ela. Dos 19 petebistas, apenas quatro não devem seguir a indicação. Eles também não serão punidos.
"Fechar questão não é o melhor caminho. É o convencimento. Vamos caminhar para a direção de anunciar que a bancada majoritariamente vota pelo impeachment. E vamos tentar mudar esses votos", disse Jovair.
O resultado é, de certa forma, favorável ao governo, que conta com quatro a cinco votos ligados ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro (PTB-PE), ou ao PT nos Estados e poderia perde-los se o partido ameaçasse punir os infiéis.
Interlocutores do Planalto sustentam que ainda há votos suficientes para a Câmara barrar o pedido de impeachment. Tabela informada pelo vice-líder do governo, Silvio Costa (PTdoB-PE), aponta 203 deputados favoráveis ao arquivamento da denúncia contra Dilma - número suficiente para derrubar o pedido. A oposição, porém, diz ter 349 votos. São necessários 342 deputados para o processo de impeachment avançar.
Mesmo no PDT, partido que reafirmou a posição contra a deposição da presidente, há entre cinco e oito deputados, de um total de 20, que podem contrariar a decisão da cúpula. O líder da sigla na Câmara, Weverton Rocha (MA), disse que foi fechada questão contra o impeachment. "Se não votar segundo a orientação partidária em maio tem reunião do diretório, a quem caberá resolver isso", declarou. Logo depois, o deputado Sergio Vidigal (PDT-ES) - um da ala dissidente - anunciou, em nota, que votará contra Dilma.
Hoje, o foco deve ser a reunião da bancada do PMDB. Cresceu a pressão para que o partido feche questão em favor do impeachment, mas, segundo fontes, a executiva do partido vai aguardar a decisão dos deputados.
"A ampla maioria vem pedir para que se feche questão. Assim, alguns deixariam de votar constrangidos pelo impeachment. Mas não queremos confrontar ninguém. É melhor buscar o acordo sem o fechamento de questão. A bancada vai dizer", informou um aliado do vice-presidente Michel Temer.
As investidas de Temer e de integrantes do partido têm reduzido cada vez mais o apoio a Dilma no PMDB. Ontem, os deputados Alberto Filho (MA), ligado ao ex-presidente José Sarney, e Newton Cardoso Júnior (MG), muito próximo de Picciani, declararam publicamente apoio ao impeachment. O grupo pressiona também para que o ministro da Aviação Civil, Mauro Lopes (MG), que é deputado licenciado, não deixe o cargo para votar.
Nas contas dos oposicionistas, o governo hoje contaria com apenas oito votos dos 67: o dos ministros da Saúde, Marcelo Castro (PI), e da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera (RJ); de Picciani; três do Pará ligados ao senador Jader Barbalho; do deputado Carlos Bezerra (MT); e de João Marcelo (MA), aliado de Sarney e que votou contra o parecer na comissão.
Picciani já reconheceu a aliados que, como estratégia para não ver a liderança ser ameaçada, deixará que - até o grupo mais ligado a ele - costure quase que a unanimidade pelo impeachment. Mas quer evitar o fechamento de questão.
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