O vice-presidente Michel Temer enviou um arquivo de áudio a parlamentares de seu partido, o PMDB, em que fala por 15 minutos como se o impeachment tivesse sido aprovado pelo plenário da Câmara. Na gravação, que ele alega ter vazado por acidente, Temer diz falar na condição de “substituto constitucional” de Dilma e afirma serem “mentirosos” os boatos de que seu eventual governo acabaria com o Bolsa Família. A JORGE BASTOS MORENO, o vice disse que o conteúdo reflete seu pensamento e que acredita que o vazamento não afetará o resultado da votação no plenário. Para o Planalto, o áudio foi distribuído propositalmente e revela uma “trama golpista”.
Áudio de Temer ‘assumindo’ a Presidência vaza para aliados
• Vice disse que cometeu ‘equívoco’, mas que discurso dele não é ‘novidade’
Leticia Fernandes - O Globo
-BRASÍLIA- Num áudio vazado ontem, gravado para supostamente ser exibido após a eventual aprovação do impeachment no plenário da Câmara, cuja votação foi marcada para este domingo, o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) fez previsões como se os deputados tivessem decidido, por “votação significativa”, que a presidente Dilma Rousseff seja processada e, portanto, afastada do cargo. No áudio, o peemedebista já fala com a perspectiva de se tornar em breve presidente da República e diz que é preciso um governo de “salvação nacional” para unir o país. Horas depois da gravação vir a público, Temer concedeu entrevista coletiva na qual disse ter cometido um equívoco, mas destacou que não é “novidade” o conteúdo do áudio e que, após a votação em plenário, “certa e seguramente” será exigido dele um posicionamento.
— Eu reitero que aquilo que disse seria exatamente o que fiz no passado e vou continuar a fazer, dependendo do que acontecer no dia 17. Não estou dizendo novidade: são teses que tenho sustentado ao longo do tempo — disse o vice.
Aliados elogiam
Ao longo do dia, alguns de seus principais aliados, como os ex-ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, divulgavam trechos do áudio no Twitter, tecendo elogios. Na gravação, de quase 14 minutos, Michel Temer prega a “pacificação” e “reunificação” das forças do país. Ele diz que são palavras “provisórias” e afirma que se recolheu nos últimos tempos para “não aparentar algum gesto com vistas a ocupar o lugar” de Dilma:
— Quero me dirigir ao povo brasileiro para dizer algumas das matérias que penso devam ser por mim enfrentadas. (...) Aconteça o que acontecer no futuro, é preciso um governo de salvação nacional e de união nacional. É preciso que se reúnam todos os partidos políticos e todos estejam dispostos a dar sua colaboração para tirar o país da crise. O fundamental agora é o diálogo, a compreensão, e, para não enganar ninguém, ideia de que vamos ter muitos sacrifícios pela frente. Sem sacrifícios, não conseguiremos avançar para retomar o crescimento e desenvolvimento que pautaram a atividade do nosso país nos últimos tempos, antes dessa última gestão.
Em outro trecho, que teria sido enviado a parlamentares do PMDB por engano, Temer afirma que a missão pós-impeachment é pacificar o país. Diz que vai manter as conquistas sociais dos últimos governos e comenta que aqueles que fazem “política rasteira” andam dizendo que ele acabaria com programas implementados pelo PT, como o Bolsa Família e o ProUni. O vice nega e diz que poderá, inclusive, ampliá-los. Temer afirma, no entanto, que a existência do Bolsa Família é apenas um “estágio do Estado brasileiro”.
— É preciso manter certas matérias sociais, porque nós todos sabemos que o Brasil ainda é um país pobre. E sei que dizem, de vez em quando, que se outrem assumir, vamos acabar com o Bolsa Família, com Pronatec, com Fies. Isto é falso, é mentiroso e é fruto desta política mais rasteira que tomou conta do país. Deveremos manter esses programas e, até se possível, revalorizá-los e ampliá-los. O que aconteceu nos últimos tempos foi um descrédito no nosso país, eée leque levaàausênci ado crescimento, do desenvolvimento, que faz retomara inflação.
O vice-presidente defendeu Parcerias Público Privadas (PPPs) e a interferência mínima do governo no Estado. O discurso, liberal, é alinhado a oque defende o PSD B evai contra oque o PT e Dilma defendem.
— O Estado brasileiro tem que cuidar de Segurança, da Saúde, Educação, de alguns temas fundamentais que não podem sair da órbita pública, mas os demais têm que ser entregues à iniciativa privada no sentido da conjugação da ação entre trabalhadores e empregadores.
Ao defender essas mudanças, num “governo de transição”, Temer admite que isso se traduzirá em “sacrifícios iniciais” para os brasileiros e que a recuperação do país não virá “em três ou quatro meses”. Afirma, no entanto, não querer gerar “falsas expectativas”.
—Não pense mosque, se houve ruma mudança no governo, em três, quatro meses estará tudo resolvido. Pode começaras er encaminhado, para resolvermos a matéria ao longo do tempo.
O vice defendeu reformas que considera fundamentais para o país — política, tributária e da Previdência —e a revisão do pacto federativo, com autonomia para estados e municípios, com “grande diálogo nacional”. Falou também em anistiar ou perdoar parte das dívidas dos entes federativos. Ressalta, porém, que nenhuma mudança removerá benefícios dos trabalhadores.
— É nesses termos que vamos trabalhar: diálogo de um lado e conjugação de esforços do outro serão os alicerces do nosso trabalho — concluiu Temer. no áudio. (Colaborou Eduardo Barretto)
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