- Folha de S. Paulo
O longo e inútil debate na Comissão Especial do Impeachment acabou com a previsível vitória do relatório que defende a abertura do processo contra Dilma Rousseff por um placar que não permitiu aos partidários do impedimento uma comemoração especialmente efusiva.
É boa notícia para o Planalto? Não exatamente. O fato de o governo comemorar uma derrota por pouco, torcendo por uma repetição proporcional na votação no plenário da Câmara, mostra o grau de dificuldade da articulação política que sobrou: Lula e a frase "O que você precisa para ficar com a gente?".
Uma vitória alargada, claro, daria o mesmo argumento ilusório para os opositores de Dilma. É tudo questão de "vencer a narrativa", um jargão esquerdista absorvido por todo mundo em Brasília.
Ao fim, o que seria um marco importante da história da crise que vivemos foi suplantado pelo realismo fantástico da crônica política.
O "Zap-zap ao Povo Brasileiro", um dos apelidos jocosos dados ao áudio vazado com o "test-drive" de programa de governo de Michel Temer (PMDB-SP) expôs o vice de forma dramática.
Foi um monumental tiro no pé para sua imagem que, numa sociedade democrática mais aperfeiçoada, dificilmente teria perdão político. Afinal, um vice abertamente treina o discurso comemorativo do impedimento da titular da Presidência.
Há o folclórico no episódio, como Temer dizendo que só falaria "palavras preliminares", a serem ditas "com muita modéstia", após ter sido instado por pessoas impressionadas com a "expressiva" votação pró-impeachment. "Media training" é isso, mas fica feio quando vaza.
Mas estamos no Brasil. Haverá discussões intermináveis sobre o que realmente aconteceu em relação ao vazamento, assim como no malfadado episódio da carta de rompimento com Dilma.
Temer ganhou a alcunha agora pública de "golpista" do Planalto, mas é igualmente fato que o discurso tem acenos para todos: os que temem arrocho, os que querem "sacrifícios", os cansados da carnificina na vida pública.
O texto apela publicamente assim a indecisos na votação na Câmara, que de todo modo já vêm sendo abordados em privado. Parte do terrorismo econômico que o governo vem fazendo diz respeito justamente à ideia da "retirada dos direitos do trabalhador" numa gestão Temer.
Seja como for, o senso comum sugere um dano político grave para Temer, mesmo que não haja necessariamente impacto para o processo de impeachment na Câmara.
O áudio é um passo além das negociações quase públicas que o peemedebista e seus prepostos tocavam.
Se o vice ganhou mais adeptos entre os que o chamam de conspirador ou entre indecisos, o curto tempo até a votação final dirá.
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