• Entrevista - José Arthur Giannotti, professor de Filosofia da USP
- O Estado de S. Paulo
Crítico dos governos petistas e referência teórica entre integrantes do PSDB, o professor da USP José Arthur Giannotti critica os projetos de lei baseados no programa Escola sem Partido, que considera “sem nenhuma legitimidade”. Leia trechos da entrevista concedida ao Estado:
Por que projetos como o Escola sem Partido ganharam tanta força nas instâncias legislativas?
Isso foi resultado de uma enorme tentativa de doutrinação lulopetista nas escolas. Aí vem a reação. Nós não temos nada a ver com uma coisa nem outra e não podemos aceitá-las. Estamos hoje no Brasil diante de uma confusão geral entre o público e o privado.
É aplicar convicções privadas no espaço público?
Sim. É sintomático que tenhamos tantos projetos querendo controlar aquilo que não precisa ser controlado, porque a Constituição já garante o que pode ou não ser feito.
A Constituição garante ao professor a liberdade para discutir todos os temas?
Evidente que sim. É só ler o capítulo sobre liberdades individuais. Nada disso precisa ser controlado. Está tudo definido pela Constituição ou por outras leis. O resto é apenas o resultado de uma batalha ideológica que está se dando em um plano do pior nível possível, de “coxinhas” e “mortadelas”.
Os projetos têm legitimidade?
Não têm nenhuma legitimidade. Assim como não teve legitimidade o aparelhamento de certas escolas por esquerdistas mal informados.
E os projetos que incluem conteúdos religiosos no currículo?
Aqui também a essência do problema é uma confusão entre o público e o privado. Uma mistura entre aquilo que deve ser ensinado pelo professor e aquilo que ele tem direito de expressar. Essas coisas têm de ser separadas. Mas, como hoje o Brasil está em uma barafunda geral, não é estranhável que logo eu seja obrigado a ensinar ao meu neto que a teoria do big bang é equivalente à doutrina do criacionismo.
Então, impor o ensino religioso no currículo também é ilegítimo?
O currículo mínimo tem um ponto de vista público e esse ponto de vista só pode ser científico. É claro que um professor que acredite no criacionismo pode falar do assunto aos alunos. Mas ele tem por obrigação, por honestidade intelectual, dizer que o criacionismo não tem base na ciência, mas em outras narrativas que, no fundo, têm base na fé.
É possível lecionar sem entrar em conflito com as convicções religiosas e morais dos pais, como exigem os projetos?
Os pais podem pôr seus filhos em escolas confessionais, de acordo com suas convicções. A escola pública é laica. Se a escola aceita todo tipo de confissão, tem de ser neutra. Não há como agradar numa aula às confissões budistas, islâmicas e católicas. Não tem sentido.
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