• É justo cobrar obrigações do estado, mas sem o preço de prejudicar a população ou de tomar o Rio como refém
A debacle financeira que este ano arrastou o Estado do Rio para uma das piores crises de sua história atinge todos os estratos da sociedade. Sem caixa para honrar compromissos, o governo atrasa o pagamento do funcionalismo, deixa de prestar serviços à população (em alguns casos, levando ao limite da inépcia setores que, mesmo em tempos de bonança, já não funcionavam a contento) e reduz investimentos.
É uma roda-viva cujos efeitos deletérios realimentam a crise. Sair dela, portanto, implica romper, em algum momento, os gargalos que mantêm a administração estadual sob pressão e virtualmente paralisada. Para acabar com esse círculo vicioso é preciso melhorar a gestão pública, terreno da eficiência administrativa — um contencioso de que o governo não tem dado conta. Mas também exige alguma dose de ponderação, e até algum sacrifício, dos outros atores diretamente atingidos pela crise.
A população tem exercitado o comedimento, suportando provações com relativa paciência. Igualmente, essa conformação tem marcado as relações dos setores produtivos, mesmo exauridos, com o poder público. Por sua vez, o funcionalismo, por meio de suas entidades representativas, na maioria vinculadas a partidos, tem reagido de modo mais crítico às dificuldades da conjuntura. Está no seu direito, mas as formas de protesto devem ter o critério da razoabilidade e do bom senso.
É justa a insatisfação com atrasos salariais. Obrigações financeiras (contas de serviços públicos, mensalidades escolares, gastos com alimentação, transporte e saúde, entretenimento etc.) das famílias que dependem dos vencimentos que lhes são pagos não são suspensas por falta de salários. Mas cobrá-los não pode ser licença para que movimentos sindicais e partidários insuflem manifestações com atos que beiram o catastrofismo, ou o terror psicológico sobre população e turistas — como se viu em recente protesto de policiais no Aeroporto do Galeão. Se as razões são justas, neste e em outros episódios os meios adotados para combater a inépcia do estado foram, no mínimo, exagerados.
Não resolvem o problema — antes, o agravam, porque ampliam a crise, reduzindo a margem de ação do governo para equacioná-lo. Deixar a beira do abismo é do interesse de todos. No caso específico do movimento reivindicatório de agentes da segurança pública (delegados, policiais e bombeiros), equilíbrio, moderação e responsabilidade funcional são imposições das próprias funções que exercem — e ainda mais neste momento crítico em que, prestes a sediar o maior evento esportivo do mundo, o município do Rio precisa ser defendido contra ameaças à paz.
A crise é generalizada no país, mas tem um componente pontual no Rio de Janeiro — a falta de planejamento numa economia quase monocromática, em razão da aposta errônea de deixar o fluxo de caixa atrelado aos royalties do petróleo, uma commodity em baixa. É justo, repita-se, cobrar a responsabilidade do estado. Mas que isso não seja ao preço de prejudicar toda a população ou de tomar a cidade olímpica como refém.
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