segunda-feira, 11 de julho de 2016

Acordo deixa eleição para quarta-feira à noite

Por Raphael Di Cunto e Thiago Resende - Valor Econômico

BRASÍLIA - Após disputas dentro da base do presidente interino Michel Temer, deputados chegaram a um acordo para a eleição para presidente da Câmara ocorrer na quarta-feira, às 19h, meio termo entre o que defendia o "centrão" e o que queriam a antiga e a nova oposição. A data tinha, até a noite de ontem, o aval do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), conhecido por mudar de opinião rapidamente.

Maranhão deve anunciar o acordo hoje, mas os partidos e candidatos querem reforçar a decisão na reunião da Mesa Diretora, às 15h, e do Colégio de Líderes, às 17h, marcados justamente para resolver o impasse sobre a data. O interino marcou a eleição para quinta-feira, mas adversários suspeitavam que se tratava de manobra para cancelar a disputa em cima da hora, sair de recesso e assim permanecer na presidência por mais três semanas.

O centrão, grupo de Cunha, tentava marcar a eleição o quanto antes - chegou a defender segunda-feira e convocou, via Colégio de Líderes, sessão para terça-feira com esse objetivo. A antiga e a nova oposição, porém, afirmavam que a data visava coincidir a eleição com a votação do recurso do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).


O colegiado se reunirá na terça-feira para analisar o recurso contra a cassação do pemedebista, cujo sucesso depende de o "centrão" e o PMDB trocarem parte de seus representantes na comissão - o que provocaria desgaste às vésperas da eleição para o comando da Câmara, onde alguns partidos e parlamentares visam eleger alguém não ligado ao pemedebista. "Era coisa combinada", afirma o líder do PSB, deputado Paulo Foletto (ES).

Para Cunha se salvar, reconhecem seus aliados, só com mudanças na CCJ. Diferentemente do que ocorre no Conselho de Ética, onde os integrantes têm mandato e só saem se quiserem, na comissão a vaga é do partido - e o líder pode fazer a substituição a qualquer momento, inclusive durante a sessão. Basta uma canetada.

PR, SD e PTN já trocaram integrantes contrários a Cunha por outros favoráveis. Mas o número é insuficiente e a articulação se mostrou falha - Carlos Gaguim (TO) entrou para dar o voto do PTN ao ex-presidente, mas deixou a CCJ e já se lançou candidato à sucessão. No lugar entrou Jozi Araújo (AP).

Cunha depende de pelo menos 34 dos 37 integrantes do centrão e do PMDB na CCJ para aprovar o recurso, fazendo o processo voltar ao Conselho de Ética. Mas vários representantes desses partidos já declararam publicamente contrários ao parecer do deputado Ronaldo Fonseca (Pros-DF), favorável a parte do recurso.

A conta varia, mas aliados de Cunha dizem que ele teria apenas 22 votos caso não ocorram alterações na CCJ. Partidos aliados estão dispostos a promover as mudanças, mas querem empurrá-las para depois da eleição da presidência com medo de que o impacto afete seus votos.

Candidato favorito do centrão, o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), tenta evitar aparecer como responsável por manobras para salvar o pemedebista. A eleição marcada para a noite de quarta-feira reduz as chances de que a votação na CCJ ocorra após a sucessão. Mas caberá ao novo presidente eleito da Câmara pautar a cassação em plenário.

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