quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Para Lula, Moro continua com o ‘espetáculo da perseguição’

• Em teleconferência, ex-presidente se diz triste e indignado com decisão

Dimitrius Dantas, Sérgio Roxo, Henrique Gomes Batista - O Globo

-SÃO PAULO E NOVA YORK- Depois de se tornar réu, o ex-presidente Lula partiu novamente para o ataque. Em nota divulgada por sua assessoria, ele acusa o juiz Sérgio Moro de dar “prosseguimento ao espetáculo de perseguição política” e de “confirmar sua parcialidade” ao aceitar a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) por corrupção e lavagem de dinheiro.

Pouco antes, em uma teleconferência promovida ontem por simpatizantes do PT em Nova York, Lula disse estar “indignado” e “muito triste porque o juiz Moro aceitou a denúncia contra mim, mesmo que a denúncia seja uma farsa”.

“Caráter político”
A nota da assessoria de Lula diz: “Ao aceitar a denúncia inepta, o juiz Sérgio Moro confirmou sua parcialidade em relação a Lula, que já foi denunciada ao Supremo Tribunal Federal e à Corte Internacional de Direitos Humanos da ONU. Moro simplesmente deu prosseguimento ao espetáculo de perseguição política iniciado pelos procuradores na semana passada”.

O texto também afirma que o “mundo jurídico brasileiro sabe que a denúncia da força-tarefa tem caráter eminentemente político, sendo o resultado de uma série de arbitrariedades e violações de direitos — como a condução ilegal de Lula para prestar depoimento, a violação e divulgação de telefonemas do ex-presidente e até de seus advogados, a invasão de sua casa, das casas de seus filhos e de diretores do Instituto Lula”.

Para a assessoria do ex-presidente, “após dois anos de investigações, nada foi encontrado para relacionar Lula aos desvios na Petrobras”. “Tudo o que restou à força-tarefa foram hipóteses e convicções em torno de um imóvel que não é e nunca foi de Lula, além do custeio da armazenagem do acervo de documentos reunidos em seu período de governo. Sobre essa base inconsistente foi apresentada uma denúncia inverossímil e insustentável no Direito Penal, acolhida por um julgador notoriamente faccioso em relação a Lula”.

Ainda segundo a nota, o “povo brasileiro e a comunidade internacional sabem que Lula é vítima de perseguição, de uma verdadeira caçada judicial, largamente apoiada pela grande mídia brasileira, com objetivos políticos indisfarçáveis, uma perseguição que não poupa sequer dona Marisa Letícia.”

Por fim, classifica o processo como “de cartas marcadas, com o claro objetivo de excluir da vida política o maior líder popular e o melhor presidente da história do Brasil”.
No evento transmitido em Nova York, Lula chamou a denúncia de “farsa e pirotecnia”.
— Não deve ter nenhum cidadão nesse mundo hoje mais indignado do que eu.
Lula afirmou que continuará lutando para ser ser absolvido:

— De qualquer forma, como tenho bons advogados aqui e ali, e acredito na Justiça, vou continuar lutando. Somos brasileiros e não desistimos nunca.

No Congresso, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), disse que esperava que Moro fosse mais cuidadoso diante da “fragilidade” do material apresentado pelo Ministério Público contra Lula.

— Já era uma coisa esperada, embora eu particularmente esperasse que o juiz Moro agisse com mais cuidado pela fragilidade e pela falta de consistência das denúncias. Mas esse é o modus operandi que ele (juiz) tem — disse Costa.

Já senadores do DEM e do PSDB afirmaram que a aceitação da denúncia mostrou a solidez dos argumentos apresentados pelo MPF contra o petista.

— Essa denúncia revela de modo incontestável que o Ministério Público Federal possui fortíssimos indícios de que Lula praticou os crimes pelos quais está sendo acusado. Cada vez mais a sociedade brasileira testemunha o que sempre denunciamos: Lula era o mentor da quadrilha que há anos assalta os cofres públicos — disse o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO).

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