Por Juliano Basile – Valor Econômico
NOVA YORK - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que não há pessoa mais indignada no mundo do que ele, em razão das acusações que o tornaram réu nos autos da Operação Lava-Jato. "Não deve ter hoje no planeta Terra nenhum cidadão mais indignado do que eu", afirmou em videoconferência a um evento em Nova York organizado pelos advogados que ingressaram com uma petição na ONU questionando desrespeito às garantias de defesa do ex-presidente.
Lula acusou os integrantes da Lava-Jato de fazerem perguntas às pessoas presas na operação com o objetivo de implicá-lo. "Agora as pessoas são presas e dizem: 'tem que falar o nome do Lula'". Ele desafiou seus acusadores a encontrarem um empresário para falar que ele cometeu crime. "Eu desafio eles a ter um empresário minimamente sério nesse país e que tenha coragem de dizer que o Lula pediu um dólar para alguma coisa". Segundo ele, quando não conseguem provas, os acusadores procuram os jornais para passar informações desfavoráveis ao ex-presidente. "Agora quando não se tem prova, se vai pelas manchetes dos jornais."
Lula também apontou motivações políticas nas acusações. "Talvez, eu seja um intruso na história republicana do país, porque não estava previsto na sociologia um operário metalúrgico se tornar presidente do Brasil. Todos os instrumentos para o MP e a PF de agora foram feitos por Lula e Dilma". O ex-presidente terminou a sua fala no ato desafiando os acusadores a apresentarem provas.
"Quero terminar minha parte dizendo o seguinte: sou um homem de consciência muito tranquila. Se alguém apresentar uma prova contra mim, e não estou pedindo duas, se houver uma, quero ser julgado como qualquer cidadão brasileiro."
Para Lula, o Brasil vive um momento de anomalia política muito grande. Como exemplo, ele disse que dois dias depois do impeachment, foi alterada a legislação que trata das pedaladas fiscais - a causa para o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff no Senado. "É importante lembrar aos companheiros dos Estados Unidos que sou um profundo respeitador da instituição Ministério Público", enfatizou Lula.
"Sou profundo respeitador da Constituição porque fui constituinte em 1988. Embora tenha votado contra o texto, assinei porque havia participado. E sou respeitador da tese de que todos devem ser iguais perante a lei. Um ex-presidente tem que ter o mesmo tratamento que um servente de pedreiro, que um carpinteiro e que uma doméstica. Esse é o princípio fundamental da minha vida aos 71 anos. O que não posso aceitar é o que está acontecendo no Brasil nesse instante."
Lula disse aos seus apoiadores que o que menos importa no Brasil, hoje, é a verdade. O que valeria, para ele, é a construção de versões. "Se conta versão, ela vira manchete de jornal, a manchete é manipulada pela televisão e a pessoa, independentemente de ser inocente, passa a ser condenada pela opinião pública."
Lula qualificou a apresentação da denúncia contra ele pelo Ministério Público como um "espetáculo de pirotecnia". "Alugaram sala num hotel e devem ter gasto dinheiro público para fazer a pirotecnia e depois de uma hora de ilações chegaram à conclusão de que não tinham provas, mas tinham a convicção de que eu era o chefe de uma quadrilha que chegou ao poder em 2003."
O ex-presidente disse que ninguém pode ser julgado por convicção. "É preciso ter certeza para que alguém seja julgado."
Lula admitiu tristeza pelo fato de Moro ter aceitado a denúncia contra ele, mas afirmou que vai lutar contra as acusações. "Eu estou triste porque o juiz Moro aceitou a denúncia contra mim, mesmo ela sendo uma farsa, uma grande mentira. Mas temos advogados e vamos brigar. Vamos continuar lutando para que o povo volte a ter orgulho de ser brasileiro."
Para o advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin Martins, Moro perdeu a imparcialidade para julgar Lula. "O líder dos procuradores que atua na Operação Lava-Jato chegou a dizer que ele e o juiz eram símbolos de um time, o que mostra que não houve a separação entre o acusador e o julgador. Evidentemente que o juiz perdeu a imparcialidade para julgar Lula", disse Martins, presente ao evento de apoio ao ex-presidente num restaurante na rua 52, perto da 5ª avenida, em Nova York.
Os defensores de Lula ingressaram com uma petição na ONU sobre o assunto e aproveitaram a Assembleia-Geral da entidade que está ocorrendo em Nova York para chamar a atenção para o assunto. "Hoje, [o presidente Michel] Temer falou na ONU que nós temos um Judiciário independente e um Ministério Público atuante. No entanto, as arbitrariedades e as perseguições a Lula por um juiz de Curitiba e pelas convicções de alguns membros do MP colocam em xeque a imagem que Temer passou ao mundo", afirmou o advogado.
De acordo com o advogado britânico Geoffrey Robertson, que está na defesa do ex-presidente, Lula não merece imunidade, mas merece respeito. "O mundo está observando o Brasil. A comunidade jurídica internacional está chocada com as violações cometidas pelos promotores da Lava-Jato contra Lula e sua família. Trata-se de uma perseguição a Lula e não de um processo. É por isso que levamos este caso à Comissão de Direitos Humanos da ONU em Genebra", disse. Robertson chegou a ser interrompido pela plateia que gritou em inglês: "Parem com o golpe no Brasil".
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