- Folha de S. Paulo
Já contei essa história. Há muitos anos, encontrei uma amiga poeta na avenida Rio Branco. Convidou-me a um café em seu escritório e, quando me dei conta, tinha me vendido uma "Encyclopaedia Britannica", com 32 volumes, um dicionário "Webster", também com três volumes — um deles incluindo um guia de pronunciação em sete línguas —, e um possante atlas já trazendo as novas nações africanas e asiáticas independentes. Eu não sabia que minha amiga se tornara vendedora de enciclopédias.
Detalhe: naquela época, as coisas andavam feias para o meu lado. As contas não fechavam e eu precisava tanto de uma "Britannica" quanto de contrair peste suína. Algumas semanas depois, recebi em casa aquela montanha de livros. E quer saber? Eles me ajudaram a sair do buraco e, nas décadas que se passaram, já se pagaram muitas vezes. Até hoje os conservo.
Reportagem no "Estado de S. Paulo", domingo último (18), falou de como as investigações em Curitiba estão gerando informações capazes de compor uma nova e hipotética enciclopédia — a da corrupção brasileira.
Seus verbetes tratariam de movimentação de propinas originárias de empreiteiras e órgãos públicos para aprovar medidas governamentais, contas em nome de empresas off shore e trustes, doações partidárias e eleitorais só aparentemente lícitas, aquisição suspeita de bens para lavar dinheiro, contratos de consultoria e de prestação de serviços simulados (palestras, por exemplo?), suborno para calar elementos que ameaçam aderir à delação premiada, abastecimento de doleiros, ocultação de patrimônio, criação de institutos fantasmas, empréstimos bancários fraudulentos, pedaladas fiscais etc. etc.
As grandes enciclopédias se propõem a abarcar todo o conhecimento do mundo. Mas uma enciclopédia da corrupção brasileira nunca poderá se dizer completa.
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