• Países latino-americanos abandonam sala; Serra chama embaixador
Henrique Gomes Batista - O Globo
-NOVA YORK- O presidente Michel Temer aproveitou a abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, para afirmar que o impeachment da presidente Dilma Rousseff respeitou a Constituição e o processo democrático, mas os protestos de Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua e Cuba, acrescidos da Costa Rica, novata no clube que discute o impeachment no Brasil, reacenderam o debate. Os países se retiraram do plenário da ONU para não ouvir o presidente brasileiro e, com isso, o Itamaraty convocou o embaixador em San José, um claro sinal de descontentamento diplomático com a Costa Rica.
Temer disse que o Brasil está começando a viver uma nova fase, e que o impeachment foi um exemplo para o mundo:
— Não há democracia sem estado de direito, sem normas que se apliquem a todos, inclusive aos mais poderosos. É o que o Brasil mostra ao mundo. E o faz em meio a um processo de depuração de seu sistema político — disse o presidente, que recebeu aplausos apenas ao final de seu discurso.
O presidente brasileiro — que apenas cumprimentou rapidamente o presidente dos EUA, Barack Obama, em um almoço na ONU e que perdeu a oportunidade de encontrá-lo na sala de espera dos discursos pois o americano se atrasou — disse que a maior tarefa agora é retomar o crescimento econômico e restituir aos trabalhadores brasileiros milhões de empregos perdidos.
— Temos clareza sobre o caminho a seguir: o caminho da responsabilidade fiscal e da responsabilidade social — reforçou o presidente, que disse que a confiança ao país já está voltando.
— Temos um Judiciário independente, um Ministério Público atuante, e órgãos do Executivo e do Legislativo que cumprem seu dever. Não prevalecem vontades isoladas, mas a força das instituições, sob o olhar atento de uma sociedade plural e de uma imprensa inteiramente livre.
Quando o presidente brasileiro foi anunciado, as delegações de Venezuela, Equador, Costa Rica e Nicarágua deixaram a plenária das Nações Unidas. Os representantes de Cuba e Bolívia, por sua vez, só chegaram ao local depois da fala de Temer. O presidente da Costa Rica, Luis Guillermo Sólis, divulgou nota pelo Twitter para explicar o protesto.
— Nos preocupa a situação desse país (Brasil), cujo povo apreciamos e nos sentimos sempre próximos. No entanto, nossa decisão, soberana e individual, de não escutar o discurso do senhor Michel Temer na Assembleia Geral obedece a nossa dúvida diante de certas atitudes e ações que querem se passar por democráticas.
A última vez que a Costa Rica adotou protesto semelhante foi contra o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, que negava a existência do Holocausto. A atitude da Costa Rica — o país mais desenvolvido da América Central — causou surpresa no governo brasileiro. O ministro José Serra pediu ao secretário-geral das Relações Exteriores, Marcos Galvão, que chamasse ao Itamaraty o embaixador da Costa Rica, Jairo Gabel Bermúdez, para esclarecer o sentido do gesto do país durante a assembleia da ONU, bem como da nota que emitiram nessa oportunidade.
“O governo brasileiro ficou surpreso com o episódio e tem dificuldade para compreender a motivação e a argumentação expostas na referida nota” afirmou o Itamaraty, em nota.
Antes, Serra havia minimizado o impacto do protesto do grupo de países latino-americanos:
— Nenhum. Zero. Do ponto de vista internacional é próximo de zero. Estava na primeira fila, nem me dei conta. A ONU tem 200 membros, né, são cerca de 200 países, não me parece uma proporção significativa. Mas, de todo modo, com relação à Costa Rica eu vou ler a nota e tomar conhecimento.
Temer também aproveitou o discurso na ONU para debater grandes temas internacionais e tentar reforçar o peso do Brasil no cenário global. No fim do dia, foi ao Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa), repetindo um dos passeios prediletos da ex-presidente Dilma Rousseff.
Lado certo
GESTO CLÁSSICO da diplomacia para demonstrar desaprovação, as delegações de Venezuela, Equador e Nicarágua deixaram o plenário da ONU quando foi anunciado o pronunciamento de Temer, e os representantes de Cuba e Bolívia chegaram depois do discurso. Explicitaram o que já se sabe: os regimes autoritários, nacional-populistas do continente se solidarizam com o lulopetismo e Dilma, afastados do poder por meio de regras constitucionais.
MAIS UMA vez ajudam a demarcar os territórios na região: o Brasil continua no bloco das nações em que vigora o estado democrático de direito e do outro lado estão uma ditadura stalinista tropical, um país em dissolução, a Venezuela, e demais bolivarianos, que também não têm dúvida em esmagar a oposição.
CONTINUA-SE do lado certo da História, o da democracia representativa.
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