Reconstruir a Petrobrás, transformando-a numa empresa empenhada na busca da eficiência e da rentabilidade, é o grande objetivo indicado no plano de negócios apresentado ontem pela nova diretoria. Dois anos de aperto e de austeridade serão a fase inicial, condição necessária para a companhia “voltar a crescer em condições saudáveis”, segundo anunciou o presidente da estatal, Pedro Parente, ao expor à imprensa e ao mercado o roteiro para os próximos cinco anos. Até o cronograma do anúncio indicou um compromisso de mudança. Ficou para depois o detalhamento do plano perante o acionista controlador, a União. A precedência atribuída à opinião pública e aos investidores privados, nesse caso, foi uma forma de acentuar a independência política da atual administração, em contraste com a prática tradicional e, especialmente, com a total subordinação ao Palácio do Planalto durante o período petista. Uma data, informou, ainda seria combinada com o Ministério de Minas e Energia.
O aperto programado para os próximos dois anos, com forte redução dos investimentos previstos, venda de participação em negócios e menor atenção a atividades no exterior, é consequência daquele estilo de administração centrado na chefia de governo. Sob a direção petista, a empresa foi subordinada à ideologia e também às ambições – nem sempre legítimas – pessoais e partidárias do grupo no poder. Foi forçada a iniciar investimentos mal planejados, a assumir custos absurdos, a desviar-se de suas atividades mais importantes, a operar com preços politicamente contidos e a endividar-se de forma descontrolada. Tudo isso seria suficiente para devastar uma grande companhia, mas houve também o grande saque promovido em nome das alianças partidárias e dos objetivos eleitorais – história investigada na Operação Lava Jato.
A gestão imprudente converteu a Petrobrás na campeã mundial de endividamento, título mencionado várias vezes, nos últimos anos, por analistas do mercado financeiro internacional. A relação entre a dívida bruta e a capacidade de geração de caixa, conhecida como Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), chegou em 2015 a 5,3 vezes.
O objetivo, agora, é baixar essa proporção para 2,5 vezes. Com o crédito afetado também pelo rebaixamento da nota soberana no Brasil, uma das façanhas da presidente Dilma Rousseff, a estatal se viu em dificuldades para ter acesso às fontes tradicionais do mercado e teve de recorrer, num dos momentos mais difíceis, a um amigável empréstimo chinês.
A primeira parte do plano de negócios é destinada basicamente à superação dos enormes danos causados pela administração sujeita às ordens dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Com a severa diminuição de sua capacidade financeira, a Petrobrás terá de cortar de US$ 98,4 bilhões para US$ 74,1 bilhões o investimento programado para o período entre 2017 e 2021. Também deverá reduzir sua participação em petroquímica, produção de biocombustíveis e de fertilizantes e distribuição de derivados. Segundo a estimativa anunciada ontem, essa desmobilização deve render US$ 19,5 bilhões em 2017 e 2018.
Sem abandonar totalmente outras áreas de negócios, a empresa deverá concentrar-se nos objetivos tradicionais de pesquisar e produzir petróleo e gás. Mais tarde, quando tiver melhores condições financeiras, poderá, segundo se informou, examinar novas oportunidades de atuação no exterior.
A atuação ampla no setor de energia é compatível, obviamente, com a boa administração de uma empresa de petróleo, se as prioridades forem definidas com bom senso e bem avaliados os custos e a rentabilidade em cada tipo de negócio. Bom senso e respeito às normas de administração foram desprezados, no entanto, quando o governo petista resolveu usar a Petrobrás como instrumento de política industrial e até – por meio da política de preços – de maquiagem da inflação. Sob nova gerência, a maior estatal brasileira será, se as promessas forem cumpridas, tratada como empresa. Será quase uma revolução.
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