- O Globo
No encerramento de um de seus episódios mais marcantes da série documental “Making a Murderer”, o advogado do acusado chama a família dele para explicar o julgamento que viria a seguir. A boa notícia, diz, era que a defesa havia reduzido de seis para três as acusações contra o réu, mas emenda: “A má notícia é que, se perdermos na primeira acusação, nada mais importa.”
A situação do ex-presidente Lula é semelhante. O Ministério Público Federal (MPF) o acusou de ser o “comandante máximo” da organização criminosa que se instalou na Petrobras. Não é simples provar uma acusação tão subjetiva, uma vez que dezenas de outros acusados no esquema movimentaram montantes muito superiores aos relacionados até agora ao ex-presidente. Mas isso pouco importa.
Lula teve despesas pessoais milionárias pagas pela OAS. Algumas, nem ele mesmo contesta, como o aluguel de um galpão para armazenar bens pessoais recebidos durante a Presidência e a realização de obras no sítio que utilizava como se dono fosse — e que os investigadores não têm dúvida de que dele era.
Entre 2010, quando preparava sua saída do Planalto, e 2014, Lula trafegou em um território cinzento, recebendo milhões de reais de empreiteiras, sob a justificativa de ter dado palestras, inclusive no exterior. Mas, nas viagens, Lula também encontrava-se com políticos locais que podiam influenciar diretamente na contratação das obras pelas quais as empresas lutavam.
Ontem, o MPF denunciou Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, apenas no caso do tríplex do Guarujá e da armazenagem de seus bens. Apesar do espetáculo criado pelo MPF, não é necessário provar que ele chefiou uma organização criminosa para que sua carreira e biografia cheguem ao fim.
Se a Justiça — não apenas Sérgio Moro, mas as cortes recursais — comprovar que Lula cometeu um só crime em sua relação com empreiteiras, nada mais importa. E o MPF sinalizou que o tiro desta semana foi apenas o primeiro.
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