- Folha de S. Paulo
Morando em Lisboa no começo dos anos 70, ainda peguei o fim da longa guerra de Portugal contra os movimentos de libertação de suas colônias - Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Era uma guerra perdida, condenada por todo mundo e só sustentada porque Portugal vivia sob ditadura. O custo dela era visível em suas cidades: poucos jovens nas ruas (claro, a maioria estava fora, combatendo) e, entre os que se podia ver, muitos estropiados, cegos, sem um braço, perna ou ambos - todos cruelmente uniformizados. A situação entre os nativos nas colônias devia ser pior ainda.
Leio na Folha que 27 dos esportistas paraolímpicos na Rio-2016 são veteranos de guerra dos EUA, Grã-Bretanha, Israel, Bósnia-Herzegóvina, Sri Lanka, Turquia, Holanda e Austrália, feridos em batalha no Iraque, Afeganistão, Líbano, Cisjordânia e outros países que tiveram a desgraça de hospedar conflitos.
São rapazes e moças que, em nome de ideologias ou credos (que podiam nem ser os seus), caíram sob tiros, explosivos improvisados, minas terrestres, homens-bomba ou mísseis nucleares. De volta à vida, e gratos a ela, resolveram exercê-la da maneira mais plena possível - ou impossível.
A Paraolimpíada do Rio está provando, várias vezes por dia e para plateias emocionadas, que vale a pena lutar pela vida. As arquibancadas entenderam o recado e, ao contrário do que aconteceu na Olimpíada, não torcem especialmente pelos atletas brasileiros ou pelos que buscam os recordes - torcem por todo mundo.
A guerra, assim como o esporte, prefere os jovens. Mas outra causa da presença de muitos deles ali não foram os combates, e sim os acidentes de trânsito. É duro constatar que o veículo mais letal da história não foi o cavalo, a biga, o caminhão, o jipe ou o tanque.
É o automóvel de passeio.
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